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Janette Sadik-Khan: “Nossas ruas podem ser muito mais do que conveniências para carros”

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Janette Sadik-Khan mudou a forma como os nova-iorquinos convivem com a sua cidade. A ex-secretária de transportes da metrópole americana mostrou que é possível devolver o equilíbrio na distribuição do espaço urbano, com soluções simples e capazes de transformar realidades. Muito mais do que “a mulher que fechou a Times Square“, ela conseguiu resultados em um tempo curto (esteve no cargo entre 2007 e 2013) e sem comprometer o orçamento, com microrrevoluções na cidade que elevaram a qualidade de vida da população.

Em visita ao Brasil para participar do lançamento do projeto de requalificação urbana do centro de São Miguel Paulista, em São Paulo, e do seu mais recente livro, Street Fight: Handbook for an Urban Revolution (ainda sem edição em português), Janette falou sobre como as cidades brasileiras podem se qualificar mesmo sem grandes investimentos, a importância de medir os resultados dos projetos, entre outros assuntos, veja:

Você argumenta que as ruas são como o código de operação das cidades e são fundamentais para gerar ganhos sociais. Fale mais sobre esse conceito e como ele poderia ser aplicado em cidades brasileiras.

Nossas ruas podem ser muito mais do que conveniências para carros. As ruas são como os jardins das casas das pessoas. Nós, de certa forma, esquecemos isso. O que estamos começando a ver são cidades e prefeitos buscando uma forma de melhorar a qualidade de vida nos bairros e nos distritos de negócios ao esculpir espaço para a pé, pessoas de bicicleta, pessoas em trânsito. Quando você tem ruas vivas, cheias de pessoas, essas transformações no contexto das calçadas são as pequenas mudanças que realmente constroem a riqueza social de uma cidade. Esse tipo de abordagem, meio Jane Jacobs, é realmente transformando cidades pelo mundo, de cidades como São Paulo, ou o que você vê acontecendo no Rio de Janeiro, em Roma, Atenas, Oakland e Chicago. Isso está se tornando um novo código de operação para as cidades do mundo. O DNA está mudando de um DNA baseado no carro para um DNA baseado nas pessoas.

As cidades brasileiras sofrem com a falta de investimento em muitas áreas, mas a sua experiência em Nova York mostrou que é possível fazer grandes mudanças mesmo com pouco dinheiro. Que conselho você daria para as cidades brasileiras?

Mexam-se rápido. Tentem coisas. Foi o que fizemos em Nova York. Lá, 99% de todo o nosso orçamento foi gasto arrumando ruas e pontes. Apenas 1% foi investido em todas as transformações como as faixas de ônibus, ciclovias e plazas. Tudo isso foi feito com apenas 1% da nossa verba. Então, você pode agir rápido e literalmente pintar a cidade que você quer ver. Mostre o que é possível, tente fazer coisas. Meça o que funciona, meça o impacto dos projetos. E se não funcionar, você sempre poderá voltar à forma como era antes. Certo? É a tentativa que importa. Ninguém pode argumentar que as nossas ruas têm que ser do mesmo jeito para sempre. Nossas cidades mudaram, a população mudou, tecnologia, cultura, tudo mudou nas nossas cidades. E mesmo assim nossas ruas não mudaram. Então, renovar as nossas ruas é um passo chave para melhorar o funcionamento, a operação, segurança e a habitabilidade das nossas cidades. Não é preciso milhões nem décadas. Você pode literalmente fazer essas mudanças do dia para a noite. É a mudança do uso do espaço que é fundamental. Quando você adapta o espaço, as pessoas o adotam.

Você é uma pessoa que valoriza muito os dados e realizou muitas experiências temporárias em Nova York. Ter argumentos baseados em evidências ajudou a implementar essas mudanças?

Dados são fundamentais. Eu trabalhei para um prefeito movido por dados, Michael Bloomberg, e ele costumava dizer: “acredite em Deus, o resto todo que traga dados”. Então nós trouxemos muitos dados, medimos tudo e medimos os impactos em segurança, em mobilidade, nos negócios e no trânsito. E o que encontramos é que esses projetos, ruas melhores, eram melhores para os negócios. Se você não coleta os dados, é muito mais difícil. As pessoas vão dizer “mas é ruim para o comércio”, “o trânsito piorou” e você não tem nenhuma forma de responder a isso. Quando você tem dados você pode mostrar os resultados. Foi melhor para os negócios, para a economia, melhor para a segurança, para a sustentabilidade, daí você tem uma análise que vai além de “ela disse” ou “ele disse” para os projetos. É realmente crítico para sustentar os projetos e para expandi-los com o tempo.

Qual a importância de ter organizações como a Bloomberg Filantropies e o WRI Brasil Cidades Sustentáveis trabalhando junto com os governos para melhorar o desenho das cidades?

Acredito que o trabalho da Bloomberg Filantropies e a Iniciativa Global para a Segurança Viária que está ocorrendo e o trabalho do WRI também, é mostrar o que funciona em diferentes tipos de cidades. Não precisamos reinventar a roda. Tantos de nós enfrentam os mesmos desafios. Nós podemos aprender uns com os outros, o que funciona e o que não, e aplicá-las nas nossas ruas para fazer as transformações que precisamos acontecer rapidamente, de forma efetiva e acessível. Esse é um dos momentos mais interessantes para isso. Cidades são o futuro do planeta. Se podemos fazê-las funcionar melhor, estamos em uma ótima posição para mudar o mundo.

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