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Uma abordagem contextual para a trajetória rumo à mobilidade urbana sustentável

(Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Há quem diga que o mundo está passando por um processo de transição no âmbito de mobilidade urbana. Em direção a sistemas mais sustentáveis, além de pensar em tráfego e fluxo do sistema viário, novas soluções estão sendo desenvolvidas. A inclusão de considerações a respeito da pluralidade das formas de produção e de distribuição das atividades econômicas e de questões sociais embutidas nos serviços de transporte apresenta uma inversão das tendências do desenvolvimento da mobilidade.

Esses são indícios de uma mudança complexa, decorrente da necessidade de políticas integradas de transporte e desenvolvimento urbano controlado a longo prazo. Isso abrange não só os deslocamentos realizados a partir das necessidades das pessoas, mas também os serviços e oportunidades que a cidade oferece para reduzir a necessidade de viagens e para facilitar as movimentações, o que inclui incentivar modais alternativos de transporte, reduzir as distâncias de viagens e encorajar uma maior eficiência nos sistemas de transporte público.  No entanto, tais mudanças sistêmicas e em múltiplas dimensões ainda não são percebidas em todo o mundo.

O crescimento do ciclismo urbano, o compartilhamento de bicicletas, as viagens multimodais assistidas por aplicativos de smartphones e a redescoberta da caminhada urbana não são experiências compartilhadas por todas as cidades do mundo. Se em países desenvolvidos estas já são foco central em política públicas, no Brasil, considerando a dimensão do país, ainda são iniciativas piloto e em pequenas escalas.

Essa situação, contudo, varia também entre os países em desenvolvimento. Em Luanda, na Angola, por exemplo, há construções por toda parte, incluindo alguns estacionamentos. Obviamente porque as ruas já não suportam o número exorbitante de carros. Durante o dia, é possível encontrar vários veículos parados e, nos horários de pico, eles lotam as vias. Numa cidade com 6 milhões de habitantes, a estimativa é que já haviam mais de dois milhões e meio de carros até 2012. Ademais, no período entre 2009 e 2014, mais de um milhão e meio de veículos foram registrados na Direção Nacional de Viação e Trânsito de Angola. Há, claramente, um estímulo para o uso dos carros em Luanda. Por lá, assim como ainda no Brasil, ter um carro é questão de status. Os veículos são valorizados como o meio mais confortável para se deslocar, enquanto a infraestrutura e as condições inadequadas do trasporte coletivo na cidade estimulam a cultura do uso de veículos particulares.

Luanda vive problemas semelhantes ao de muitas cidades brasileiras no que diz respeito à mobilidade (Foto: André Pereira/Flickr)

Com poucos semáforos, ausência de faixas de pedestres e um alto índice de atropelamentos, visivelmente o carro está situado no topo da pirâmide de tráfego. A lógica é evitar os congestionamentos e favorecer o fluxo de veículos na cidade. Parece que esse pensamento tem sentido, mas gerenciar a mobilidade de uma cidade considerando apenas o tráfego e o fluxo de veículos nas vias não é uma abordagem que se sustentará. Logo, as ruas não suportarão o alto índice de motorização dessas cidades, e, assim como no Brasil, terão grandes problemas em reverter a situação caótica futura.

O trânsito e o transporte pautados em privilégios ao uso do carro já não sustentam mais os fluxos de deslocamentos urbanos. Essa é uma tendência percebida na maioria das grandes cidades, mas, apesar de estarmos em plena globalização, a trajetória de transição dos sistemas de transporte e trânsito encontra realidades e desafios diferentes dependendo do contexto urbano em que estiver inserida. O caminho até a sustentabilidade dos sistemas de transporte pode ser – e possivelmente será – diferente em cada cultura. Portanto, para além de resolver os problemas regionais, um grande desafio atual das nações é engajar efetivamente os outros países na discussão sobre mobilidade urbana sustentável e como de fato ajudá-los na reconfiguração de um sistema estabelecido.

Obviamente, não há respostas para os todos os problemas locais de cada país, mas é possível contribuir pelo exemplo, pela inspiração em soluções eficientes ou com a disponibilização de informações e dados. São necessárias intervenções políticas cooperativas e ações coordenadas e integradas para que possamos de fato colaborar para o desenvolvimento urbano sustentável global.

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