O grau de poluição nas cidades dos países em desenvolvimento é grave, segundo o terceiro Relatório Global sobre a poluição urbana lançado na última semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, foram analisadas 45 cidades, das quais 40 apresentaram médias de concentração de partículas poluentes superiores aos limites definidos como adequados para a saúde pela própria OMS. Isso significa o aumento de riscos de doenças respiratórias crônicas e agudas, entre outras. Segundo o relatório, 98% das cidades de países de renda baixa e média, com mais de cem mil habitantes, não atendem às recomendações da OMS.
A cidade brasileira com maiores níveis de poluição é Santa Gertrudes, localizada a 170 quilômetros da capital paulista. A principal fonte de poluição do município é proveniente da indústria de cerâmica e do transporte do material. Em comunicado, conforme divulgado pelo portal IHU, a prefeitura de Santa Gertrudes afirma que adotou medidas recentes, como a proibição do tráfego de veículos de carga com carroceria descoberta, e trabalha com as empresas para a implantação de novos sistemas de filtragem. Além disso, em 2014, a Secretaria do Meio Ambiente promoveu o plantio de mais de duas mil mudas em vias públicas e nas áreas de preservação ambiental, como forma de reverter os impactos ambientais, além de ações educativas e de conscientização.
Em Cubatão, na Baixada Santista, os níveis de poluição também estão elevados, com 31 microgramas de PM 2,5 por metro cúbico de ar. Rio Claro, no interior paulista, tem 26. A Região Metropolitana de São Paulo é a sexta mais poluída do país, com 19 microgramas de PM 2,5 por metro cúbico. Rio de Janeiro, com 16 microgramas, e Curitiba, com 11, são outras duas capitais brasileiras que superam os limites recomendados da OMS. As informações são do IHU.
O relatório da OMS destaca que algumas cidades têm realizado melhoras significativas, demonstrando que a qualidade do ar pode ser melhorada com algumas medidas como a proibição do uso de carvão para o aquecimento de edifícios, a utilização de combustíveis renováveis ou limpos para a produção de energia e a melhoria da eficiência dos motores dos veículos.
Em entrevista à Rádio ONU, Carlos Dora, epidemiologista da agência falou sobre as conclusões do relatório e destacou como “tem, por exemplo, cidades como Curitiba, que tinha um nível que antes era acima do preconizado pela OMS e que agora tem o ar mais limpo, de acordo com a qualidade de ar da agência da ONU. É uma coisa muito positiva porque Curitiba também tem um dos melhores exemplos de políticas públicas que levam a melhorar a qualidade do ar. Gestão dos resíduos para não queimar o lixo, gestão ecológica dos resíduos, (a cidade) deixa fermentar e colhe o metano para usar como biogás. Então, tem uma série de soluções na gestão de resíduos que eles estão implementando”.
O epidemiologista ressaltou ainda como ações pontuais como o rodízio de carros que a Cidade do México e São Paulo implementaram, funcionam para reduzir a poluição em situação aguda, mas a longo prazo, as situações devem ser analisadas detalhadamente para buscar a causa da poluição. Afinal, a poluição é responsável por mais de 3 milhões de mortes prematuras no mundo todos os anos.
Rio de Janeiro e São Paulo inverteram os papéis na tabela. Até 2012, ano do último relatório sobre poluição urbana, a cidade do Rio estava à frente de São Paulo, com 36 microgramas. Agora, a cidade carioca apresenta 16 microgramas enquanto São Paulo apresenta índices de poluição duas vezes superior ao recomendado pela OMS, com 19 microgramas.
O alto nível de poluentes nocivos nas cidades brasileiras, como se sabe, é consequência de uma vasta gama de problemas com o sistema de transportes. É importante levar em conta o significado que tais números têm para a qualidade de vida dos brasileiros e procurar evitar a dispersão das cidades. Uma maneira de fazer isso é por meio do desenvolvimento urbano compacto, conectado e coordenado, em conjunto com tecnologias de combustíveis limpos e padrões de emissões.