O projeto Nossa Cidade, do TheCityFix Brasil, explora questões importantes para a construção de cidades sustentáveis.
A cada mês um tema diferente.
Com a colaboração e a expertise dos especialistas do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, os posts trazem artigos especiais sobre planejamento urbano, mobilidade sustentável, resiliência, segurança viária, entre outros. A cada mês, uma nova temática explora por ângulos diferentes o desenvolvimento sustentável de nossas cidades.
Financiamento sustentável em quatro pontos
Existe uma lacuna entre a crescente demanda por serviços urbanos sustentáveis e a capacidade das cidades de desenvolver e financiar soluções inovadoras que contemplem a sustentabilidade. O financiamento de projetos urbanos sustentáveis tornou-se uma questão urgente na gestão de cidades e é o elemento que vai orientar o desenvolvimento dos centros urbanos nos anos por vir.
Nas próximas décadas, as cidades devem absorver um contingente populacional adicional de 2,5 bilhões de pessoas e, até 2050, 66% da população mundial estará vivendo em áreas urbanas. Tal crescimento virá acompanhado pelo aumento da demanda por infraestruturas e serviços urbanos – transportes, acessibilidade, segurança viária, espaços públicos de qualidade, entre outros aspectos fundamentais para a qualidade de vida nas cidades, serão ainda mais exigidos. A infraestrutura urbana é a base de ambientes urbanos que oferecem bem-estar às pessoas, além de ser uma engrenagem-chave para uma economia funcional. Entretanto, considerando que 75% da infraestrutura com que os centros urbanos contarão em 2050 ainda precisa ser construída, é fundamental que as cidades comecem a se preparar para o futuro. Essencialmente, mais do que atender uma necessidade crescente por infraestruturas urbanas, as gestões municipais precisarão suprir essa demanda com sustentabilidade – provendo infraestruturas sustentáveis, que fomentem o desenvolvimento de cidades mais compactas e conectadas contribuam para a redução de emissões.
Visão de cidade, desenho urbano e planejamento integrado são peças que ajudam a guiar as cidades nesse processo, mas, para que sejam convertidas em mudanças concretas, requerem financiamento. Os investimentos feitos hoje vão direcionar o desenvolvimento dos centros urbanos pelas próximas décadas, e são as cidades que optarem hoje por um modelo sustentável que prosperarão no futuro.

Financiando a sustentabilidade: as cidades que investirem hoje em projetos sustentáveis são as que vão prosperar no futuro (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
No caminho que começou a ser percorrido com a assinatura do Acordo de Paris, as cidades estão focadas em financiar e implementar projetos urbanos que potencializem o desenvolvimento de baixo carbono, conciliando crescimento econômico e sustentabilidade. No entanto, onde está o financiamento verde? E como acessá-lo? Essas duas perguntas acometem administrações municipais interessadas em implementar mudanças para alavancar a sustentabilidade urbana.
O dinheiro para projetos sustentáveis existe. Instituições financeiras e investidores têm dinheiro disponível no mercado para financiar o desenvolvimento das cidades. Esses recursos, contudo, precisam ser redirecionados e aplicados em projetos de fato sustentáveis. Milhões de dólares têm sido gastos em inúmeros projetos de infraestrutura urbana que fomentam um modelo de desenvolvimento urbano equivocado, o que tem resultado na ineficiência das cidades e no aumento das emissões de gases do efeito estufa. Mudar o destino de investimentos de grande porte em direção a projetos que construam cidades sustentáveis é o primeiro passo.
As oportunidades existem. Principalmente no contexto internacional, há oportunidades de financiamento sustentável que as cidades devem aprender a explorar para concretizar seus planos. Durante a COP 21, 27 instituições financeiras assinaram a declaração dos Green Bonds de Paris, e mais de 100 trilhões de dólares estarão disponíveis para o financiamento de projetos sustentáveis nas cidades, provenientes de fundos de pensão internacionais. Os green bonds, títulos que direcionam os recursos captados para que sejam aplicados em projetos sustentáveis, surgem como uma oportunidade certeira de financiamento sustentável: em quatro anos, esse mercado registrou um crescimento substancial, de 2,6 bilhões de dólares em 2012 para 41,8 bilhões em 2015. E a tendência é de continuar crescendo.
Garantir o financiamento de projetos sustentáveis, porém, também requer equilíbrio de interesses. Inicialmente, as gestões municipais devem compreender que é possível aliar crescimento econômico com a redução de emissões, justificando, assim, o investimento em sustentabilidade. Aliado à mitigação dos efeitos das mudanças no clima, cidades que investirem em um modelo de desenvolvimento compacto e conectado podem economizar até 3 trilhões de dólares em investimentos em infraestrutura pelos próximos 15 anos. Além disso, é preciso conciliar os interesses do setor público e do setor privado, encontrando um ponto de equilíbrio capaz de beneficiar tanto investidores quanto a qualidade de vida e a sustentabilidade nas cidades.
Por fim, para que o investimento em projetos sustentáveis seja viável e bem-sucedido, são necessários projetos atrativos. Investidores buscam retorno seguro para seus investimentos. Assim, se quiserem acessar os recursos disponíveis para o financiamento sustentável, as cidades precisam desenvolver bons projetos, tanto conceitualmente quanto do ponto de vista financeiro – projetos que sejam economicamente viáveis para as cidades, sustentáveis, atrativos para investidores e que tragam benefícios para a população.
Dadas essas considerações, o desafio que se apresenta às cidades é eminente. Em particular no contexto brasileiro, muitos municípios têm boas ideias e bons planos, mas carecem de capacitação técnica para desenvolver projetos sólidos e atrativos ao mercado financeiro. O trabalho conjunto entre gestores municipais e o setor privado, nesse cenário, é fundamental para que as cidades consigam superar barreiras e conceber e implementar projetos financiáveis. As alternativas existem, e as cidades podem – e devem – buscá-las para garantir o futuro sustentável.