Um dos pilares norteadores do conceito de igualdade no trânsito deve ser o reconhecimento da pessoa ao lado como igual, independentemente de raça, gênero ou quantidade de metal despendida para a fabricação do veículo escolhido para realizar seus deslocamentos. No entanto, debater o conceito de igualdade no trânsito permite inúmeros vieses, e todos refletem sobre relações da sociedade. Carros e bicicletas podem ser considerados para exemplificar a disparidade do ambiente urbano. Motivo que levou um grupo de pesquisadores da Universidade de Portland a estudar qual é a infraestrutura mais segura, útil e igualitária nas áreas em que ciclistas e carros confluem: os cruzamentos.
O comportamento da sociedade e sua relação com os centros urbanos vai de encontro a elementos que podem passar despercebidos, mas que são capazes de produzir desconforto, impaciência, estresse. Por exemplo, a qualidade e a infraestrutura de uma ciclovia ou a programação dos semáforos para pedestres. No entanto, por mais cotidianas que possam parecer, essas interações com o tecido urbano não resultam apenas em falta de qualidade de vida, mas podem produzir acidentes e mortes.
Entre bicicletas e carros também pode haver algumas barreiras positivas: as ciclovias. Se instaladas de acordo, com infraestrutura adequada e com a manutenção e a fiscalização necessárias, essas pistas protegidas são consideradas favoráveis para quem se locomove pelas cidades de bicicleta. Apesar do maior conforto e segurança que essas estruturas proporcionam para quem pedala, em algum momento, haverá um espaço de intersecção. Os cruzamentos nos quais ciclistas, pedestres e carros se encontram precisam ser tratados em pé de igualdade. São nestes pontos que o design urbano deve ser estudado sob a ótica da segurança e da mobilidade, sem que nenhum dos modais seja desprivilegiado.
Mesmo onde existem ciclovias protegidas, quando ciclistas chegam aos cruzamentos, as barreiras físicas somem e a lógica por trás da segurança recai no sentido de priorização dos carros. Relacionado a isso, na última semana, o CityLab noticiou que um grupo de pesquisadores do Departamento de Trânsito de Portland está buscando, em termos de design, o modelo mais seguro de cruzamentos para ciclistas. A intenção dos autores da pesquisa é formular uma ferramenta padrão que oriente agências de transporte a elaborar infraestruturas mais seguras, úteis e igualitárias para ciclistas.
A reportagem ressalta como algumas cidades norte-americanas têm adotado a lógica do que denominam “abordagem holandesa” (imagem abaixo), que é a separação da pista por pequenas ilhas de concreto. No entanto, são mais comuns as chamadas zonas de mistura, nas quais os ciclistas devem compartilhar o espaço com os carros. Outro modelo existente é o uso do tempo do semáforo para manter os tráfegos separados.
O grupo de pesquisa do Centro de Pesquisa e Educação da Universidade de Portland pretende levar a discussão adiante. Em acordo com cerca de 11 municípios, órgãos de planejamento regional, agências de trânsito e organizações sem fins lucrativos dos Estados Unidos, os pesquisadores estão estudando todos os tipos de proteção para ciclistas nas áreas em que há uso compartilhado com os carros. Após o levantamento, eles usarão simulações de computador, análises de vídeo e pesquisas para determinar os “limites críticos que os designers precisam considerar a partir de um projeto para outro”, conforme destacou Christopher Monsere, professor de engenharia civil na Universidade Estadual de Portland e principal pesquisador do projeto. As informações são do CityLab.
“A velocidade será uma variável levada em conta no design, pois influencia tanto a severidade dos acidentes quanto a visibilidade que é preciso fornecer para ciclistas usando uma ciclovia protegida”,explicou o pesquisador para o portal.
Nos próximos 18 meses, os pesquisadores estarão reunidos com um grupo de design para produzir uma ferramenta padrão para que o departamento de transporte de qualquer cidade possa usar. Dentro desse panorama de pesquisa, a esperança é transformar o ambiente urbano para que os diferentes modais sejam tratados em pé de igualdade. Esperamos que os estudos cheguem a cidades do Brasil. São Paulo é um exemplo recente de município brasileiro que inspirou suas ciclovias em modelos internacionais viáveis, como os de Nova York, Bogotá, Buenos Aires, Portland e Cidade do México.
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