
Concurso é oportunidade para debater ideias para requalificação de áreas em Belo Horizonte (Foto: Mariana Gil / WRI brasil Cidades Sustentáveis)
Com o crescimento das áreas urbanas, fica ainda mais clara a importância de que as cidades sejam vistas de uma forma mais ampla e inclusiva, que permita a todos viverem da melhor forma. Para isso, projetos que preveem requalificar áreas devem estar atentos a maneiras de atender ao máximo a diversidade de pessoas.
Essa questão está cada vez mais na pauta do desenvolvimento urbano, mesmo que ainda existam algumas barreiras que ainda precisam ser ultrapassadas. “A saturação das cidades, causada pelo excesso de viagens, principalmente com transporte privado, exige soluções que envolvam a promoção do transporte coletivo e do não motorizado. Logo, para que as pessoas andem mais a pé, a infraestrutura relacionada a esse modal deve estar em dia. Isso inclui calçadas e a integração com os equipamentos urbanos e de transporte. Nesse caso, não estamos pensando na melhoria da mobilidade apenas pra pessoas com dificuldades de locomoção. Se a cidade é favorável para essas pessoas, provavelmente será para toda a população”, explica Paula Santos Rocha, Coordenadora de Mobilidade Urbana e Acessibilidade do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
Para ela, o grande desafio é organizar todas as necessidades e desenvolver um plano com metas e prazos. “O tamanho do problema costuma assustar, porque estamos falando de cada pequeno defeito na calçada, mas, se a ideia é construir uma cidade para as pessoas, essa é a escala que deve ser priorizada”, destaca.
Uma oportunidade para ampliar essa discussão é o Concurso Acessibilidade para Todos, que irá premiar as melhores ideias de requalificação de espaços, equipamentos e sistemas de mobilidade urbana de Belo Horizonte. O desafio é promover o transporte ativo, superando ou minimizando os problemas de acessibilidade existentes em três perfis de locais da cidade: trechos com alta declividade, com calçadas estreitas ou estações de integração de transporte coletivo.
Por onde começar
Talvez o primeiro passo para se pensar nessas mudanças seja compreender a diferença entre os conceitos de acessibilidade e desenho universal. Enquanto o primeiro é explicado como possibilidade para “utilização, com segurança e autonomia, de espaços, equipamentos urbanos e serviços por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida”, o segundo é mais amplo, pois propõe arquitetura e design centrados no ser humano e na sua diversidade.
Espaços baseados no desenho universal são úteis e confortáveis para um maior número de pessoas, independentemente das suas características. Não há necessidade de projetos específicos ou adaptados porque o desenho universal leva em conta não apenas as deficiências físicas, mas outras condições que reduzam a mobilidade, mesmo de forma passageira, como gravidez e uso de muletas.
Alguns exemplos dessa diferença são clássicos, como o elevador de ônibus, que demanda auxílio do cobrador ou motorista para que o passageiro possa utilizar, gerando demora e constrangimento – além de irritação em outros usuários. Ônibus com piso baixo e rampas estão mais próximos do desenho universal. Até mesmo a forma como as informações para os usuários do transporte coletivo são elaboradas, geralmente pensadas para pessoas que não têm nenhuma restrição, serve como alerta. No máximo, são usados sinais sonoros para pessoas cegas. Desconsidera-se, por exemplo, que muitos surdos não são alfabetizados e, sendo assim, não conseguem entender as informações escritas nem se comunicar com ninguém, pois dificilmente algum atendente conhece a linguagem dos sinais. O uso de pictogramas é uma forma alternativa de comunicação em casos como esse.
O Plano Pedonal de Lisboa pode servir como inspiração para projetos que pretendem devolver as cidades para a população. De acordo com o documento, cinco elementos são essenciais para um plano de acessibilidade:
1) Via pública, como na estrutura e manutenção das calçadas;
2) Equipamentos urbanos, como museus, bibliotecas, parques urbanos e jardins;
3) Transporte coletivo;
4) Fiscalização de propriedades particulares;
5) Desafios transversais, como tornar o turismo mais acessível, e saber como lidar com as exceções (por exemplo, casos em que adaptações são desproporcionalmente onerosas, difíceis ou que afetam o patrimônio).
Para que um plano como o de Lisboa se torne realidade, é preciso considerar a participação popular em todo o processo de construção das ideias. Pode-se dizer que, neste assunto, a largada foi dada no Brasil desde que mais medidas começaram a ser tomadas para tornar as cidades mais sustentáveis. Com isso, a população começou a ver as mudanças e expressar suas opiniões. “Termos como ‘mobilidade urbana’ e ‘transporte sustentável’ ganharam visibilidade e as pessoas começaram a discutir as cidades que elas gostariam de viver. As pessoas agora querem participar mais das propostas e das decisões nas cidades. A prova disso é a aderência a concursos promovidos para buscar ideias de readequação urbana”, conclui Paula.
Concurso Acessibilidade para Todos
Organizado e promovido pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis, o concurso é voltado para profissionais de Engenharia e Arquitetura e Urbanismo, que podem formar equipes multidisciplinares envolvendo pessoas de outras áreas de atuação, podendo ser, inclusive, estudantes. Além de incentivar a requalificação urbana, essa é uma oportunidade de diálogo entre “quem planeja” e “quem usa” a cidade, já que as propostas só serão aceitas se elaboradas em conjunto com uma pessoa com deficiência.
O edital está disponível no site concursoacessibilidade.org, e a fase de Inscrição e Envio de propostas será aberta no dia 19 de maio.