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Brasil: probabilidade de aumento extremo na temperatura é alta

(Foto: Gustavo/Flickr)

As mudanças climáticas são uma realidade. Estima-se que, até o fim do século, 10% da população mundial sofra com os efeitos do aquecimento global e de fenômenos extremos. Em dezembro do ano passado, o Acordo de Paris estabeleceu aos 195 países signatários o objetivo de unir esforços para manter abaixo de 1,5°C o aumento da temperatura média global até 2100. Cenários diferentes desse podem trazer consequências catastróficas para a vida no planeta – e no Brasil não é diferente, como mostra o estudo “Riscos de Mudanças Climáticas no Brasil e Limites à Adaptação”, lançado este mês pela Embaixada Britânica no Brasil em parceria com o Centro de Monitoramento de Alerta de Desastres Naturais (Cemadem) do Ministério da Ciência e Tecnologia.

Diferente da maior parte de estudos sobre o tema, que avaliam as consequências de um aumento da temperatura média global de 2°C, o estudo da Embaixada Britânica considera cenários mais extremos. O aumento da temperatura em 4ºC em relação à era pré-industrial, por exemplo, afetaria vastas regiões do país, onde a temperatura média poderia atingir 30°C – o dobro da média do planeta hoje –, elevando o risco de mortalidade pelo calor, especialmente entre crianças e idosos. O calor extremo e as consequentes mudanças no regime de chuvas podem levar à extinção de espécies, reduzir a disponibilidade de água e limitar a área de cultivo de alimentos como o arroz e o feijão. E a probabilidade de o Brasil viver um cenário de aumento de 4°C na temperatura média ainda neste século é alta:

Em um cenário de alta emissão de gases do efeito estufa, o país tem probabilidade alta (maior que 70%) de sofrer um aquecimento superior a 4ºC antes do fim deste século. (Fonte: Relatório “Riscos de Mudanças Climáticas no Brasil e Limites à Adaptação”)

Considerando essas chances, o documento analisa os impactos do aumento da temperatura em quatro áreas estratégicas: saúde, agricultura, biodiversidade e energia. Na saúde, o impacto mais grave seria o estresse pelo calor. Com temperaturas máximas contínuas acima dos 37°C, aliadas à alta umidade do ar, o corpo é impedido de perder calor por transpiração, o que pode levar à morte em caso de exposição prolongada. Além disso, o aquecimento promove condições térmicas ainda mais favoráveis para a disseminação do Aedes aegypti, vetor de doenças como dengue, chikungunya e zika.

(Fonte: Relatório “Riscos de Mudanças Climáticas no Brasil e Limites à Adaptação”)

Para a agricultura, os prejuízos estariam na redução das áreas de baixo risco para o cultivo dos alimentos. No caso do feijão, a perda das áreas de baixo risco para o cultivo seria de 57%. Em termos nacionais, a tendência é que a produção seja restrita aos estados de Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. No caso da soja, a produção seria comprometida em quase todo o país, com uma perda das áreas de baixo risco de 81%. No que tange à biodiversidade, o aumento igual ou superior a 4°C na temperatura média pode aumentar em 15,7% o risco extinção de espécies, que na América do Sul já é o mais alto do mundo. Por fim, em termos de energia, considerando o cenário analisado, o déficit no atendimento da demanda elétrica no país seria praticamente inevitável até 2040.

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima), já mostrou, no Quinto Relatório de Avaliação (AR5), que a chance de o aquecimento global ultrapassar o limite de 2°C é da ordem de 40%, mesmo com a redução das emissões de gases do efeito estufa. Integrar a vulnerabilidade climática e elementos de resiliência nos processos de planejamento torna-se imprescindível para garantir as condições mínimas necessárias para a própria manutenção da vida humana. O impacto das mudanças climáticas nos setores analisados pelo relatório lança um desafio é um alerta: é preciso desenvolver estratégias capazes de reduzir a vulnerabilidade e manter o crescimento sem comprometer ainda mais o equilíbrio climático, fundamental para a sobrevivência em qualquer ponto do planeta.

Acesse o estudo na íntegra.

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