No verão de 2040 será possível velejar nas águas do Polo Norte. Até lá, o Oceano Ártico continuará congelando todos os invernos, atingindo sua máxima extensão no mês de março. Quando, então, começa o derretimento rumo a sua menor extensão, que acontece em setembro de cada ano. A fase de derretimento, no entanto, tem durado três semanas a mais que há quatro décadas. Esse processo cíclico será cada vez menor. Ainda que o gelo presente no Ártico hoje seja primordial, sua efemeridade é crescente.
Entramos, portanto, em uma linha de acontecimentos conectados. Na medida em que menos gelo sobrevive ao verão, as camadas de gelo do inverno não se formam de maneira tão vultosa. Assim, no lugar dos blocos glaciais, possuímos mais água aberta durante as estações. O que facilita a absorção do calor solar que, por sua vez, resulta em mais gelo derretido, mais aquecimento global, e assim por diante. Seguindo esse raciocínio é possível entender a frase que abre o texto.
O impacto do desaparecimento do gelo e da neve pode ser explicado por algo chamado Efeito Albedo (do latim, brancura). O efeito Albedo aborda cientificamente o poder de reflexão de uma superfície. Em linhas gerais: é a razão entre a radiação refletida pela superfície e a radiação incidente sobre ela. As cores mais claras têm esse ganho em relação às escuras no que tange à absorção de calor. Por isso, no verão, evitamos camisetas pretas. Ao contrário da cor alva do gelo e da neve, os oceanos são formados por matéria escura. Enquanto o mar aberto é escuro e absorve 93% da radiação solar, o gelo e a neve refletem cerca de 85% da mesma radiação. Além do latente aquecimento global, essa mesma radiação solar equivale à energia – da qual os furacões se alimentam. O documentário do National Geographic chamado “Worst weather ever” equaciona explicações sobre a incidência de desastres naturais e o aquecimento dos oceanos.
Apesar de termos bases científicas para explicar, a noção acerca do impacto do derretimento do gelo ainda é vaga. No entanto, para algumas nações baseadas em território insular, o aquecimento global e o derretimento do gelo já é realidade que bate na porta. O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima) listou as nações mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas. Entre eles estão as ilhas Marshall, Kiribati, Tuvalu, Tonga, Os Estados Confederados da Micronésia e as Ilhas Cook (no Oceano Pacífico); São Cristovão e Nevis (no Mar do Caribe); e a República das Maldivas (no Oceano Índico).
Essa situação, como bem lembrou o Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama em um encontro com líderes de nações insulares, no final do ano passado, pode nos levar a enfrentar a realidade de mais de dez milhões de refugiados climáticos na região da Ásia no Oceano Pacífico. Se o nível dos oceanos continuar a subir, o que já é realidade por consequência do derretimento das calotas polares, os habitantes desses territórios das ilhas vão precisar buscar abrigo nos governos e países continentais vizinhos.
Nesse sentido, a jornalista Amanda Little efetuou uma relevante crítica na revista The New Yorker sobre como o Acordo de Paris não determina nenhuma medida para reparação dos danos já causados pelas mudanças climáticas, mas apenas cria referências e detalhes que devem ser sanados.

Ilha Tarawa no Kiribati. (Foto: Government of Kiribati employee in the course of their work – Government of Kiribati)
Há nessa reportagem da Weather uma lista com fotografias dos países mais vulneráveis. A reportagem do New York Times sobre o desaparecimento das ilhas Marshall é melancólica exatamente por ser tão real. Está disponível apenas em inglês. Vale a leitura.
55 mil pessoas das Ilhas Marshall já tiveram de sair de suas casas. “Em menos de 1 grau de aquecimento já podemos ver consequências muito piores do que o que os cientistas previram apenas alguns anos atrás”, disse Marlene Moses, presidente da Aliança dos Pequenos Estados Insulares (AOSIS) para essa matéria da Salon.
(Fontes: National Geographic, IPCC, NYTimes, Weather)