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Explorando o potencial do carsharing

Este post foi escrito por Chhavi Dhingra e Juan Miguel Velasquez e publicado originalmente no TheCityFix.

(Foto: Ian Collins/Flickr)

De seis operadoras em 2012 para 41 até a metade de 2015, os sistemas de compartilhamento de carros – ou carsharing – estão se expandindo rapidamente em mercados emergentes em todo o mundo. Qual é o futuro do carsharing? Que impacto essa inovação terá nas cidades? Quais são os desafios-chave para assegurar que esses programas se tornem uma alternativa para a mobilidade sustentável? O TheCityFix organizou uma série de quatro posts a partir de um novo estudo do WRI Ross Center for Sustainable Cities, explorando o que os sistemas carsharing significam para as cidades do futuro.

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Em um mundo que deve acomodar dois bilhões de carros até 2035, poderiam os sistemas carsharing colocar-nos no caminho rumo a taxas de motorização mais baixas? Nos países do hemisfério norte, os programas de compartilhamento de veículos se mostraram capazes de reduzir o número de carros entre as famílias e a contribuir para a diminuição das emissões de gases do efeito estufa. Estudos feitos no Canadá e nos Estados Unidos, por exemplo, mostraram que cada carro compartilhado substitui em média de 9 a 13 veículos privados.

De modo geral, porém, ainda sabemos muito pouco a respeito da viabilidade econômica, do potencial de mercado e dos impactos sociais e ambientais dos sistemas carsharing nas economias emergentes. Apesar do crescimento global, ainda é pequeno o número de sistemas operando nos países em desenvolvimento. Ainda assim, os programas de compartilhamento de veículos podem ajudar as cidades ao oferecer uma alternativa à posse de um carro e, dessa forma, traçar um futuro mais sustentável para a mobilidade nos centros urbanos. Entenda por quê.

Entendendo melhor os sistemas carsharing

Como acontece com qualquer meio de transporte, os impactos dos programas de compartilhamento de carros dependem do contexto local. Inseridos no ambiente certo, podem melhorar o acesso à cidade, reduzir as emissões e o uso do carro de forma geral e desacelerar as taxas de motorização. No entanto, muitos desses benefícios requerem um mínimo de infraestrutura e outras opções de transporte já existentes. Na ausência de um sistema de trânsito propício, os sistemas carsharing, ao contrário, podem elevar a motorização e induzir a demanda pela posse de veículos ao facilitar o acesso ao carro para quem ainda não tinha um. Estimulando o interesse por dirigir, nesse cenário os sistemas carsharing poderiam contribuir para o aumento dos congestionamentos, da poluição e dos acidentes.

Nos países em desenvolvimento – particularmente na Índia e em específico os participantes da nossa pesquisa em Hangzhou e Bangalore –, as pessoas ainda mantêm o desejo de ter um carro. Para muitas pessoas, os carros são um símbolo de status. Outro motivo reside na valorização dada à mobilidade pessoa. Ter um carro é visto como uma solução para enfrentar longos deslocamentos diários e congestionamentos de forma mais confortável.

Em suma, os sistemas carsharing têm o potencial de substituir a posse de um veículo, mas precisam da situação certa para isso – um ambiente que comporte as condições necessárias para o uso de todos os outros modais, com infraestrutura adequada para pedestres, ciclistas e usuários do transporte coletivo.

O carsharing pode reduzir os índices de compras de veículos

Tanto em Hangzhou (China) quanto em Bangalore (Índia), as pessoas que não têm carro demonstraram o forte desejo de comprar um, especialmente para os deslocamentos não relacionados ao trabalho, como viagens de lazer. Em Hangzhou, todos os participantes que não possuíam carro próprio tinham a expectativa de comprar um no futuro – e, para 50% deles, esse futuro seriam os próximos dois anos.

Apesar dessa vontade, os sistemas carsharing podem ajudar a reduzir o índice de compra de carros. Se muitas pessoas ainda veem no carro um símbolo de status social, por outro lado, 50% dos participantes em Hangzhou indicaram que um bom serviço de compartilhamento de veículos poderia encorajá-los a desistir de adquirir um. Em Bangalore, esse índice foi de 30%. Embora quem já tem carro se mostre relutante em deixar de usá-lo, a maior parte afirmou que não compraria o segundo ou terceiro se pudesse contar com uma alternativa mais acessível. Esses dados relevam uma vontade de, aos poucos, deixar para trás a posse dos carros. A chave está em inserir os sistemas carsharing no mercado de forma apropriada.

Como o compartilhamento de veículos pode impactar o uso do carro

É possível que, em curto prazo, os sistemas carsharing aumentem o uso do carro, na medida em que pessoas que não possuem um veículo em casa passam a contar com um meio fácil de acessá-los. Os participantes da pesquisa em Hangzhou e Bangalore expressaram seu desejo de ter um carro, o que sugere que, nessas cidades, os programas poderiam elevar o uso do carro. A posse e o uso dos carros, porém, estão interligadas – reduzir uma pode, portanto, diminuir também a outra. Para que isso aconteça, as cidades precisam implementar políticas de restrição aos carros e estabelecer uma rede de transporte conectada e eficiente, bem como oferecer infraestrutura de qualidade para pedestres e ciclistas.

Além disso, os sistemas carsharing também podem ser uma ferramenta para introduzir nas cidades combustíveis eficientes e carros elétricos, contribuindo para amenizar o impacto ambiental do uso dos veículos tradicionais. Mas isso depende da matriz energética em cada país, uma vez que carros elétricos não significam nada, ambientalmente falando, se a eletricidade que usarem vier de fontes não limpas. Garantir um futuro de mobilidade compartilhada e sustentável ainda exige mais pesquisas sobre os serviços carsharing nas economias emergentes, mas sem dúvida é um caminho em que vale a pena investir.
Este é terceiro post da série. Leia também os dois primeiros:

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