O projeto Nossa Cidade, do TheCityFix Brasil, explora questões importantes para a construção de cidades sustentáveis.
A cada mês um tema diferente.
Com a colaboração e a expertise dos especialistas do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, as séries trazem artigos especiais sobre planejamento urbano, mobilidade sustentável, gênero, resiliência, entre outros temas essenciais para um desenvolvimento mais sustentável de nossas cidades
Este post foi escrito com a colaboração de Guillermo Petzhold, Engenheiro de Transportes do WRI Brasil Cidades Sustentáveis.
Transformando a realidade a partir da Gestão de Demanda de Viagens
A cidade de São Paulo desperdiça mais de R$ 40 bilhões por ano com os congestionamentos, segundo o relatório State of the World’s Cities 2012–2013, da ONU. Além disso, com o tempo que os paulistanos perdem no trânsito a cidade deixa de produzir de R$ 30,2 bi, segundo estudo do Ipea. Esses dados comprovam a importância da aplicação de medidas de Gestão de Demanda de Viagens que visem a qualificar as opções mais sustentáveis de transporte e otimizar o uso do automóvel consequentemente diminuindo para todos os transtornos (e custos) dos congestionamentos.
A tarefa de melhorar a mobilidade vai além do poder público: é de cada um de nós e passa também pelas empresas. Responsáveis pelos deslocamentos diários de milhares de pessoas, as organizações têm o potencial de transformar a mobilidade nos centros urbanos ao promover mudanças no padrão de deslocamento de seus funcionários, seja através da alteração dos horários de entrada e saída ou dos benefícios de transporte concedidos. A mobilidade corporativa é dedicada a medidas que podem ser aplicadas em âmbito empresarial para racionalizar o uso do automóvel e estimular opções mais sustentáveis de transporte.
Mais do que incentivar a mudança de hábitos de deslocamento, estratégias de mobilidade corporativa propiciam benefícios de todo ordem que abrangem a cidade, a empresa e as próprias pessoas e vão desde a redução de custos de transporte à redução das emissões dos gases do efeito estufa na região. Temas que ganham cada vez mais importância, devido ao atual cenário brasileiro e às recentes discussões da COP 21, onde o papel das cidades para liderar as mudanças necessárias no sentido de mitigar os efeitos das mudanças no clima foi amplamente discutido. Afinal, os centros urbanos, embora ocupem apenas 2% do território mundial, são responsáveis por 70% das emissões globais, grande parte proveniente do setor de transporte.
(Congestionamento no Vale do Anhagabaú – Foto: Henrique Boney)
Trabalho realizado para o Programa de Engenharia de Transportes da UFRJ destaca que todos os atores envolvidos, privados ou públicos, devem responder aos desafios de conter a degradação do ambiente urbano. Além disso, o estudo ainda aponta que planos de mobilidade corporativa representam uma excelente relação custo-benefício para a redução as emissões de gases do efeito estufa.
Como visto no post anterior da série, a possibilidade de teletrabalho e incentivos ao transporte ativo são algumas das medidas que podem estimular a mudança de comportamento e beneficiar a cidade como um todo. A publicação do WRI Brasil Passo a Passo para a Construção de um Plano de Mobilidade Corporativa destaca que um conjunto de medidas de mobilidade corporativa têm o potencial de reduzir entre 10 e 24% o número de viagens de automóvel com um único ocupante. O que comprova a influência e a importância do setor corporativo na melhora da mobilidade urbana de nossas cidades.
O caso de sucesso do Seatlle Children Hospital
Em 2007, a direção do hospital decidiu duplicar suas instalações. Para isso, seria necessário também ampliar o estacionamento o que acarretaria gastos da ordem de US$ 20 milhões só para construir as 500 novas vagas necessárias. Decididos a utilizar os recursos para ampliar o número de leitos e atender crianças ao invés de guardar carros, o hospital decidiu intensificar os investimentos em seu plano de mobilidade corporativa que já estava em vigor desde 1995. Através de uma estratégia que contemplava tanto incentivos ao uso de opções mais sustentáveis de transporte, por exemplo, desconto na compra de bicicletas e manutenção gratuita, vale transporte integral, desconto no estacionamento para quem oferece carona, destaque da pessoa nas mídias internas; quanto desincentivos ao uso do automóvel, através da cobrança diária pelo estacionamento. Desde 1995, o percentual de 73% de deslocamentos em automóvel com um único ocupante caiu para 43% em 2013.