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Forum C40: o trabalho conjunto entre as cidades na luta contra as mudanças climáticas

Em um dia ensolarado do fim do outono francês, a Prefeitura de Paris abriu as portas para o Forum C40. O Hôtel de Ville de Paris, construção monumental que abriga a sede da administração parisiense desde 1357, recebeu prefeitos de diversas cidades do mundo para trocar experiências urbanas no combate às mudanças climáticas.

Os mais de seis séculos que se passaram desde a inauguração do prédio presenciaram sucessões e guerras, acompanharam histórias de vida e a nós, que estamos aqui hoje, trouxeram alguns ensinamentos. Um dos principais deles, consolidado ao longo de anos, talvez diga respeito justamente à força das cidades – de sobreviver, adaptar-se e crescer a partir dos abalos.

Hoje, na segunda década de um novo milênio, sabemos que, agindo devidamente, as cidades têm nas mãos o poder de mudar a realidade tanto de seus moradores, em escala local, quanto do mundo. E foi esse o assunto que reuniu tantos prefeitos ao longo desta sexta-feira (4).

Anne Hidalgo, prefeita de Paris, compareceu ao Forum C40 para falar sobre o protagonismo das cidades na luta pelo clima (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Articulados em uma rede que busca consolidar o desenvolvimento urbano sustentável, Eduardo Paes (Rio de Janeiro), Boris Johnson (Londres), Frank Jensen (Copenhagen), Anne Hidalgo (Paris), entre tantos outros, colocaram em debate o protagonismo das cidades e o que é preciso fazer para que, além de reconhecido, esse papel seja também efetivo. À luz das negociações que ressoam nos pavilhões da COP 21, o Fórum C40 foi uma oportunidade para os gestores municipais demonstrarem liderança e ambição no combate às mudanças climáticas e mostrou os impactos positivos da colaboração entre as cidades.

Entre prefeitos

Uma sala suntuosa no segundo andar da Prefeitura de Paris acolheu o público que veio até a capital francesa para acompanhar as discussões. Juntaram-se ao prefeito do Rio de Janeiro, que também ocupa a posição de presidente do C40, nomes de peso em cidades pelo mundo afora:

  • Clover Moore, Sydney;
  • Yong Wan, Wuhan;
  • Kgosientso Ramokgopa, Tshwane;
  • Frank Jensen, Copenhague;
  • Charlie Hales, Portland;
  • Mitch Landrieu, New Orleans;
  • Karin Wanngård, Stockholm;
  • Giuliano Pisapia, Milan;
  • Patricia de Lille, Cape Town;
  • Anne Hidalgo, Paris.

Quatro painéis dividiram os tópicos debatidos entre os prefeitos: “A colaboração está funcionando”, “Financiando a ação climática nas cidades”, “Resiliência climática: assegurando o futuro de nossas cidades” e “Nosso futuro de baixo carbono: elevando as ambições”. Em um espaço destinado a fortalecer o papel das cidades na luta contra as mudanças no clima, os líderes municipais falaram sobre suas realizações em sustentabilidade e ações climáticas e os benefícios do trabalho conjunto por meio de uma rede global de cidades.

Como quaisquer melhorias em infraestrutura urbana, o desenvolvimento sustentável e as ações em prol do clima também dependem de recursos. Entre as 9.831 ações climáticas em curso atualmente, como mostrou Paes, 450 requerem um investimento de 2,8 bilhões de dólares. A capital carioca, por exemplo, nos últimos anos expandiu e melhorou a infraestrutura do transporte coletivo com a inauguração do sistema BRT. O investimento é alto, mas os benefícios às pessoas – que ganham mais qualidade de vida – são ainda maiores. “É nosso papel, como gestores, assegurar o futuro e a sustentabilidade da vida urbana. Avançar no desenvolvimento sustentável das cidades é o principal objetivo dessa rede”, afirmou Paes.

Eduardo Paes: principal objetivo do C40 é assegurar o desenvolvimento urbano sustentável (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Como as cidades já estão ou ainda podem contribuir com ações climáticas, financiar essas ações, construir ambientes urbanos resilientes e trabalhar para um futuro de baixo carbono em escala global. São questões como essas que unem os líderes municipais em redes articuladas de cidades comprometidas em trabalhar juntas pela mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O prefeito de Portland, Charlie Hales, acredita que investir em infraestrutura e assegurar a implementação de ações climáticas é uma forma de dar às pessoas a cidade em que merecem viver. “O financiamento das ações climáticas, se ainda não entrou, deve começar a fazer parte das agendas dos municípios para que possamos ter cidades melhores no futuro. Precisamos lançar mão dos mecanismos financeiros que temos à disposição para qualificar o ambiente urbano”, declarou. A cidade norte-americana, entre 1990 e 2013, reduziu em 14% suas emissões de gases do efeito estufa.

A resiliência, no contexto urbano, é o que garante a capacidade das cidades de superarem eventos extremos – cada vez mais intensos e frequentes, em todas as partes do mundo. É uma corrida contra o tempo, em que saem na frente as cidades que há tempos já se preocupam em desenvolver soluções para a redução de emissões e para a sustentabilidade urbana. “É possível implementar as ações necessárias. Para isso, basta estar comprometido com a causa. Tenho certeza de que todas as cidades podem fazer isso e liderar o caminho do mundo rumo ao desenvolvimento sustentável”, afirmou o prefeito de Copenhague, Frank Jensen.

O sucesso na construção de resiliência nas cidades depende da efetividade tanto do processo de planejamento quanto da implementação das ações previstas. Compromisso, sabedoria para aprender com os erros e o reconhecimento do potencial das mudanças climáticas de inviabilizarem a vida no planeta são algumas das marcas das gestões municipais engajadas na mitigação. Como disse o prefeito de Nova Orleans, não podemos mais nos permitir colocar a vida das pessoas em risco em nome de um estilo de vida obsoleto: “Para mudar de verdade, precisamos desenvolver uma nova filosofia de cidade. Precisamos mudar a maneira como consumimos, nos deslocamos e vivemos e dar início a uma nova era, em que a sustentabilidade é a chave para a própria vida”.

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