O que as cidades podem fazer para mitigar as mudanças climáticas e melhorar a qualidade do ar? Mesmo em uma conferência com as proporções da COP 21, por onde circulam especialistas mundialmente reconhecidos, a resposta a essa pode ser ampla. Em verdade, falamos de respostas, no plural. Nos últimos anos, presenciamos o desenvolvimento vertiginoso das tecnologias disponíveis para impulsionar a sustentabilidade nas cidades. E uma vez que cada uma cresceu em um contexto geográfico, econômico, cultural e social diferente, as soluções podem e devem ser adaptadas.
Andrew Steer, na tarde de ontem, chamou atenção para um dado alarmante: nenhuma das maiores 50 cidades do mundo atinge os padrões de qualidade do ar. No primeiro debate desta quinta-feira (3), portanto, o assunto – as oportunidades que os centros urbanos em todo o mundo têm à sua disposição para melhorar a qualidade do ar – não poderia estar em maior consonância com as questões discutidas ontem.

Panel debateu caminhos que as cidades podem seguir para melhorar a qualidade do ar e avançar na agenda climática (Foto: Priscila Pacheco/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)
Carlos Dora, Coordenador de Intervenções para Ambientes Saudáveis da Organização Mundial da Saúde, enfatizou o papel chave desempenhado pelo transporte urbano sustentável. Investir em modais ativos e não motorizados, além de equilibrar o espaço viário e tornar o ambiente do trânsito mais agradável, tem impactos diretos na saúde: contribui para a redução da obesidade e de outras doenças cardiovasculares, dos acidentes e mortes e, é claro, da poluição. “Há muitas soluções sustentáveis disponíveis – alternativas de energia limpa e renovável e transporte sustentável são apenas algumas delas. Para ter uma vida melhor, precisamos adotá-las – nós, cidadãos, e as cidades”, considera o especialista.
Outro caminho efetivo para a redução de emissões e melhora da qualidade do ar está na gestão de resíduos. As cidades têm a oportunidade de evitar até 850 milhões de toneladas de emissões por ano a partir de uma melhor gestão dos resíduos. Quem revelou o dado foi Gary Crawford, Presidente da Associação Internacional de Resíduos Sólidos. Com mais de 25 anos de experiência na indústria de resíduos, ele garante: desde medidas simples que podemos adotar em casa, como separação do lixo e compostagem, até ações mais complexas, como a coleta dos gases liberados em aterros – todas têm potencial e contribuem para melhorar a o ar das cidades.
O ar poluído das cidades é responsável por sete milhões de mortes anualmente em todo o mundo. A poluição tornou-se um ponto crítico na crise climática e, nas cidades, responsáveis por 70% das emissões globais de gases do efeito estufa, o problema é ainda maior. A boa notícia é que existe uma gama de tecnologias acessíveis, estratégias de investimento e políticas climáticas de que as cidades podem lançar mão para reduzir os poluentes de forma significativa.
Conforme afirmou Pål Rasmussen, Secretário Geral da União Internacional do Gás, “não estamos falando de hipóteses. Estes são exemplos reais de como as cidades podem agir para reduzir emissões e melhorar a qualidade do ar. Tecnologias estão disponíveis e padrões foram estabelecidos – cabe às cidades lançar mão desses recursos”. É nas áreas urbanas, as maiores poluentes em escala global, que as pessoas estão mais expostas à poluição. Mais do que nossos carros, nossa saúde está em jogo – é esse um dos principais motivos, senão o principal de por que as cidades devem continuar trabalhando, incansavelmente, para melhorar a qualidade do ar.