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Nossa Cidade: as metas do Brasil para a COP 21 e o papel das cidades para que sejam atingidas

 

O projeto Nossa Cidade, do TheCityFix Brasil, explora questões importantes para a construção de cidades sustentáveis.

A cada mês um tema diferente.

Com a colaboração e a expertise dos especialistas do WRI Brasil Cidades Sustentáveis, as séries trazem artigos especiais sobre planejamento urbano, mobilidade sustentável, gênero, resiliência, entre outros temas essenciais para um desenvolvimento mais sustentável de nossas cidades

 

As metas do Brasil para a COP 21 e o papel das cidades para que sejam atingidas

Historicamente, uma dificuldade no combate às mudanças climáticas foi seu caráter pouco palpável: até alguns anos atrás, não víamos de forma tão explícita e inquestionável os estragos que a poluição, o aquecimento global e o consumo desenfreado de recursos podem causar. Hoje, os riscos e ameaças de que se falava ficaram para trás, na medida em que, ano a ano, milhões de pessoas são afetadas pelos efeitos das mudanças no clima.

Amazônia brasileira: uma das metas do país é alcançar o desmatamento ilegal zero até 2030. (Foto: Marco Simola/CIFOR)

Recentemente, um estudo do Stockholm Environment Institute apontou o limite: mil gigatoneladas. Essa é a quantidade máxima de dióxido de carbono que ainda podemos emitir para ter a chance de manter o aquecimento global menos de 2°C acima da temperatura média no planeta na era pré-industrial – qualquer coisa diferente disso pode ter consequências potencialmente catastróficas para a vida como a conhecemos hoje.

Entre os dias 30 de novembro e 10 de dezembro, a Conferência das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP 21) reúne representantes de 196 países para deliberar sobre um problema de proporções globais que, cada vez mais e com mais intensidade, prejudica a vida no planeta. O grande objetivo é costurar um novo acordo entre as nações, a fim de combater as mudanças no clima com ações ainda mais sólidas do que as já tomadas até aqui.

O Brasil está entre esses países e, em setembro deste ano, durante a Conferência das Nações Unidas para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, anunciou suas metas para a COP 21: a principal delas, reduzir as emissões de gases do efeito estufa (GEE) em 37% até 2025 e em 43% até 2030. Os objetivos seguem o caminho iniciado em 2009 com a instituição da Política Nacional Sobre Mudança no Clima, que inclui metas para a redução do desmatamento na região Amazônica, uso eficiente de recursos naturais, aumento da participação de energia renovável na matriz energética, bem como medidas nas áreas de produção de energia elétrica, carvão, biodiesel, álcool e a ampliação de iniciativas de reciclagem.

Cidades: o centro de ação para o combate às mudanças no clima

É preciso considerar, porém, que países não operam sozinhos. Desenvolvidas ou em desenvolvimento, as nações são formadas, essencialmente, por cidades. E são elas, as cidades, que têm o poder de liderar as mudanças necessárias para mitigar os efeitos das mudanças no clima. Os centros urbanos, embora ocupem apenas 2% do território mundial, são responsáveis por 70% das emissões globais de GEE. Por isso ações localizadas são tão importantes.

As cidades são responsáveis por 70% das emissões em escala global e têm o potencial de liderar a mudança rumo a um futuro mais sustentável (Foto: Mariano Mantel/Flickr)

Os efeitos das mudanças climáticas impactam diretamente a vida urbana – minimizá-los, portanto, depende de um compromisso assumido em conjunto com as cidades. Nesse sentido, em relação à COP 21, é importante ressaltar que o Governo Brasileiro é um dos poucos no mundo que está credenciando para participação na Conferência também os governos locais, de estados e municípios.

As cidades podem – e devem – ser protagonistas no combate às mudanças no clima, e um dos caminhos para isso está nas ruas. O Observatório do Clima apontou que as emissões de GEE devem aumentar em alguns setores ao longo dos anos. O principal deles é o de energia, que tem no uso de combustíveis fósseis pelos transportes a principal fonte de emissões. No cenário brasileiro, em 2014, o setor de transportes foi responsável por 47% das emissões associadas à matriz energética.

A meta brasileira para o setor de energia é de elevar para 45% a participação de fontes renováveis no total da matriz energética. Para atingir esse objetivo, tendo em vista a contribuição dos transportes em termos de emissões, a ação direcionada ao setor é uma oportunidade de as cidades reduzirem drasticamente seus índices de emissões.

Um exemplo vem de Brasília, que reduziu as emissões locais a partir de ações conjuntas que incluíram a modernização da frota de ônibus do transporte coletivo, o início das operações do sistema BRT (Bus Rapid Transit) e a reestruturação das linhas de ônibus. Um inventário feito pelo WRI Brasil Cidades Sustentáveis mostrou que, com os ônibus de tecnologia Euro5, movidos a diesel de baixo teor de enxofre, o material particulado foi reduzido em 95%, o equivalente a 95 toneladas por ano. Além disso, a partir da implementação do sistema BRT e da reestruturação das linhas, o potencial de redução das emissões de GEE pode chegar a 55%, equivalente a 200 mil toneladas por ano.

Passageiros no Expresso DF Sul, em Brasília (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil Cidades Sustentáveis)

Em síntese, é possível dizer que os investimentos feitos hoje na infraestrutura de transporte urbano serão cruciais tanto para o futuro do planeta quanto para a qualidade da vida das pessoas. As cidades que mais focarem ações nessa preocupação hoje serão as mais sustentáveis e adaptadas no futuro. Conforme pontua Luis Antonio Lindau, Diretor do WRI Brasil Cidades Sustentáveis:

Cidades que permitem a consolidação de novas centralidades e o resgate da pujança de centros históricos não só proporcionam uma maior produtividade ao sistema de transporte coletivo, mas fortalecem a diversidade modal e reduzem a dependência do automóvel. Ao privilegiarem a circulação de pessoas em detrimento da maximização dos fluxos dos veículos privados, são as que geram as menores taxas per capita de gases de efeito estufa e menos mortos por doenças respiratórias e pelo trânsito. Em suma, um mesmo conjunto de ações pode atenuar tanto a questão climática como a de saúde.*

*Trecho de artigo publicado na edição de set/out da Revista NTU Urbano. 

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