O projeto Nossa Cidade, do TheCityFix Brasil, explora questões importantes para a construção de cidades sustentáveis.
A cada mês um tema diferente.
Com a colaboração e a expertise dos especialistas da EMBARQ Brasil, as séries trazem artigos especiais sobre planejamento urbano, mobilidade sustentável, gênero, resiliência, entre outros temas essenciais para um desenvolvimento mais sustentável de nossas cidades.
A cultura da bicicleta se fortalece a cada pedalada
Este post foi coescrito por Luísa Zottis, Priscila Pacheco e Sergio Trentini.
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Em entrevista à Carta Capital, Chris Carlsson, um dos idealizadores do movimento critical mass nos Estados Unidos, comentou sobre andar de bicicleta: “A bicicleta é um meio de transporte em seu senso literal. Ela ajuda as pessoas a chegarem do ponto A ao ponto B, e isso é uma simples realidade apolítica. Mas a pessoa pode decidir se vai de trem, carro, ônibus, andando, pulando ou voando ao ponto B. E existe política nessa decisão”.
Ocupar espaço na rua – um espaço que é seu por direito – e não dentro de um carro, mas movido pelas próprias pernas, é um ato político e simbólico. Embora muitas cidades tenham crescido com a preocupação de sempre abrir espaço para os carros, em todas elas há ciclistas que para lembrar, a cada pedalada em direção ao trabalho, à faculdade ou à casa de amigos, que as ruas existem para todos os modais.
Pedalar é uma escolha e uma tomada de posição – não poluir, não gastar milhares de reais todos os anos com os custos de um carro, não perder horas diárias e bem-estar em congestionamentos. Pedalar é uma escolha e uma tomada de posição – chegar melhor e, muitas vezes, chegar mais rápido, exercitar-se, sentir a cidade ao redor.
Aos poucos, bicicletas e ciclistas ganham as ruas de cidades brasileiras, garantindo seu espaço e confirmando: estamos aqui, existimos e não somos poucos. Com os ciclistas, crescem e se espalham também as iniciativas de pessoas que trabalham para fortalecer a cultura da bicicleta e estimular cada vez mais gente a aderir a um dos mais sustentáveis e ativos dos modais. Para inspirar ciclistas e futuros ciclistas, falamos sobre duas delas.
A Cidade das Bicicletas
Por três anos (2010-2013), a Cidade da Bicicleta (CB) funcionou como um espaço coletivo para aqueles que queriam pensar a mobilidade urbana e debater o cicloativismo. E apesar de estar sinalizada na primeira frase deste parágrafo entre parênteses com ano de início e fim, o projeto não acabou. Ele está vivo e já tem local para retomar suas atividades. Enquanto isso, a CB está viva nas iniciativas que semeou e na atitude dos ciclistas que viram a possibilidade de uma inserção no ambiente tomado por carros, bem como uma maior participação junto aos debates governamentais.
Palestras, projeções de filmes, reuniões de ativistas, festas, briques e outras atividades culturais, além do funcionamento da Oficina Comunitária da Cidade da Bicicleta aconteciam na casa. Qualquer pessoa que precisasse de conhecimento para reparar bicicletas poderia aparecer no local, assim como quem queria passar seus conhecimentos adiante.
Essa cidade paralela dentro de Porto Alegre uniu pessoas que tinham os mesmos ideais e aumentou a confiança para que não apenas continuassem pedalando, mas acreditando que poderiam criar e desenvolver novas iniciativas. A CB fortaleceu a cultura da bicicleta perante uma cidade majoritariamente tomada por carros. Os frutos dessa união de pessoas foram o surgimento de iniciativas como o Fórum Mundial da Bicicleta, que nasceu e evoluiu dentro do espaço comunitário e teve sua 4ª edição em março deste ano na cidade de Medelín, na Colômbia.
Outra iniciativa que nasceu dentro da CB foi a Mobicidade (Associação Pela Mobilidade Urbana em Bicicleta), que é focada em políticas públicas para o trânsito de bicicletas e de todos os modais não motorizados. Uma das iniciativas recentes do Mobicidade foi a criação do aplicativo “Dá pra atravessar?” que mapeou cerca de 94 pontos da capital gaúcha com o intuito de avaliar o tempo dos semáforos e a segurança das travessias para pedestres. O Mobicidade tem hoje um grupo de trabalho com diversos órgãos da prefeitura, o que possibilita um diálogo mais direto com o governo.
Desde o início, sabendo que era um imóvel cedido, uma hora ou outra precisariam sair do local. Por isso, os membros da Cidade das Bicicletas engajaram-se em conversas e enviaram ofícios para a prefeitura para angariar um novo local. O prefeito de Porto Alegre, José Fortunatti, cedeu através do Decreto nº 18.682 (de 10 de junho de 2014) uma área de 674,50 m² para o uso da Oficina Comunitária Cidade da Bicicleta. O terreno está lá, pronto para abrigar novas ideias e iniciativas que ajudem a mudar a cidade.
Uma nova Cidade da Bicicleta
O espaço, portanto, está definido. Agora, o projeto está ganhando forma através de encontros organizados por um grupo de pessoas voluntárias que discutem e planejam como transformar a área cedida em um local acolhedor.
Para tanto, está aberta uma campanha de financiamento coletivo na plataforma Catarse. A ideia é arrecadar cerca de R$ 30 mil para a implantação de uma primeira fase de atividades com a volta imediata da Oficina Comunitária, que funcionará em um contêiner adaptado às necessidades da oficina.
Esperamos que o financiamento funcione e que tenhamos novamente a Cidade das Bicicletas ativa e unindo àqueles que pensam na cultura da pedalada para melhorar a cidade e transformá-la em um espaço mais humano.
Bike para todos
Dizem que quase ninguém esquece a primeira pedalada. Na rua, ainda criança, é comum ensaiar as primeiras voltas sobre duas rodas. Saem as rodinhas, entra alguém pra empurrar. O primeiro susto, alguns tombos, e – você já está pedalando!
Antes da infraestrutura, das inovações criadas para facilitar o ciclismo urbano, vem a inevitável fase de aprendizado. Aprender a pedalar. Atividade básica, mas que nem todo mundo domina. Quem não aprendeu, com o passar do tempo, pode até desistir de vez.
Mas nunca é tarde demais. Todos podem pedalar! Um movimento espalhado por todo o Brasil tem a missão de ensinar quem ainda não sabe andar de bike, ajudar nos percursos urbanos, acompanhar as primeiras pedaladas. É o Bike Anjo!
Rede de voluntários, os “bike anjos” como são conhecidos, já são ciclistas experientes que têm toda paciência e satisfação em ajudar quem está começando. São pessoas que se propõem a introduzir a bicicleta na vida das pessoas, e para isso ensinam até mesmo algumas noções básicas de manutenção da magrela, além de medidas de segurança no trânsito. Afinal, não basta saber pedalar; é preciso ter noções básicas das leis de trânsito e de como conviver num espaço muitas vezes restrito ao ciclista. Exemplo é que muitos acreditam que pedalar na contramão é mais seguro, só que o ciclista, na verdade, deve respeitar o fluxo natural do trânsito.
O Bike Anjo nasceu em 2010 e, em 2011, já com cerca de 250 voluntários espalhados pelo país, angariou fundos através do financiamento coletivo com sucesso para construir uma plataforma para facilitar a comunicação com os bike anjos. Lá, é possível pedir ou ser um Bike Anjo.
O coletivo também realiza a EBA (Escola Bike Anjo), com aulas periódicas em diversas cidades brasileiras, geralmente num final de semana. No site do coletivo, é possível conferir a agenda de aulas, solicitar um Bike Anjo na sua cidade, ou até se unir aos atuais anjos. No site oficial do Bike Anjo, é possível conferir a agenda de aulas e também solicitar um Bike Anjo pra te ajudar – e virar um, se quiser.
Além das escolas e apoio aos ciclistas, o Bike Anjo realiza uma série de iniciativas, como o Dia de Bike ao Trabalho, oficinas de mobilização social, capacitações, entre outros. No canal do YouTube, é possível conferir uma série delas.
No vídeo abaixo, confira o Bike Anjo em ação:
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