Leah Treat, Diretora do Departamento de Transporte de Portland (EUA), será uma das palestrantes do painel Plano de Mobilidade Urbana, no Congresso Internacional Cidades & Transportes. O evento acontecerá nos dias 10 e 11 de setembro, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. Treat foi convidada para apresentar o Plano de Mobilidade de Portland, bem como sua experiência anterior no Departamento de Transporte de Chicago. A diretora pedala diariamente para o trabalho e no Twitter compartilha detalhes sobre sua rotina como ciclista e de responsável pela mobilidade de Portland. No congresso, a especialista dividirá o palco com o Secretário Nacional de Transportes e da Mobilidade Urbana do Ministério das Cidades, Dario Lopes; também com o Prefeito de Joinville, Udo Döhler; e o Coordenador do Departamento Técnico da SC Par e do PLAMUS (Plano de Mobilidade Urbana Sustentável da Grande Florianópolis), Guilherme Medeiros; sob a moderação de Rômulo Orrico, Professor do COPPE-UFRJ.
Treat acredita que conversas sobre transportes devem começar por avaliar nossos valores e questionar o tipo de cidade que queremos para nós e nossos filhos. Quando assumiu a direção do Departamento de Transportes de Portland, em 2013, notou que no ano anterior a taxa de mortes em acidentes de trânsito havia sido duas vezes maior que a taxa de homicídios. Decidiu, portanto, incorporar em Portland o programa sueco Visão Zero, que possui a filosofia de que nenhuma morte no trânsito é tolerável.
Em Nova York, por exemplo, em cinco anos de programa Visão Zero, o resultado de acidentes de trânsito envolvendo pedestres caiu 50%. Treat concorda com as diretrizes do programa e assevera que “cada morte nas estradas é uma falha do governo e da comunidade”. E uma falha que não pode ser deixada de lado. Desde então, o Departamento de Transportes de Portland fez da segurança viária sua principal prioridade, tendo como pilares básicos as mudanças na infraestrutura viária, tecnologia de prevenção de acidentes, educação e fiscalização. A especialista afirma que a segurança viária pode impactar até mesmo a economia da cidade: em Portland, acidentes de trânsito custaram US$150 milhões (R$ 516 mi) em 2013.
Outra medida defendida pela especialista é o conceito de Road Diets, termo formulado a partir de um estudo realizado no Centro de Pesquisa de Segurança Viária da Universidade da Carolina do Norte e que diz respeito a uma reconfiguração do espaço das vias. Estradas de quatro pistas (duas em cada sentido) transformam-se em estradas de três pistas – uma em cada sentido, com uma área comum entre as duas. O conceito surgiu como resposta a uma prática comum de expansão das vias urbanas quando o tráfego atinge certo ponto. Esse pensamento leva em conta que quanto maiores as vias, melhor flui o trânsito. Entretanto, novas vias atraem mais carros, e fora dos horários de pico os vastos espaços ficam desertos. Na visão de Treat, esses espaços poderiam ser aproveitados para construção de ciclovias, por exemplo.
Entre 1997 e 2003 foram feitas três Road Diets em Portland. No primeiro ano de gestão de Leah, duas outras estradas foram reconfiguradas (as Avenidas SE Division between 60th-80th avenues e NE Glisan between 60th-80th avenues). Um estudo dos últimos vinte anos de acidentes em todas as Road Diets de Portland mostra que as reconfigurações das estradas diminuíram o número de acidentes em cerca de 40%.
Antes de ser nomeada Diretora do Departamento de Transportes de Portland, Leah atuou como chefe de equipe no Departamento de Transportes de Chicago. Entre suas realizações, destacam-se a adição de 48 km de ciclovia à cidade e o fechamento de um contrato para um sistema de bike-sharing que forneceu 300 estações de retirada e mais de três mil bicicletas para a cidade.
Trabalhou também por 12 anos como vice-diretora do Departamento de Transportes de Columbia, onde ajudou a angariar um financiamento isento de impostos para a construção da 11th Street Bridge. O empréstimo federal para a construção da ponte poupou milhões de dólares que os habitantes locais deveriam pagar em impostos.
