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Ônibus na linha

(Foto: Maria Fernanda Cavalcanti/WRI Brasil | EMBARQ Brasil)

Por Vicente Loureiro*

Conheci em Cambridge, a 90 km de Londres, um serviço de transporte público realizado por ônibus, sobre o leito de uma ferrovia abandonada. Onde passava o trem trafegam agora ônibus modernos e confortáveis, equipados até com tomadas para carregar celulares. Um luxo. O modelo adotado é muito parecido com o ferroviário, a diferença é o veículo utilizado — mais adequado às necessidades de viagens existentes e mais flexível também a ajustes futuros, provocados por novas demandas.

A primeira surpresa foi ver num país de pioneira e longa tradição do transporte ferroviário o entendimento pacificado de que, dependendo das circunstâncias presentes em determinados ramais, o modal mais sustentável pode ser outro e não o trem original. Mantida a exclusividade do uso da faixa para o transporte coletivo — atendendo com segurança, pontualidade e conforto os desejos de deslocamento da população e praticados custos operacionais aceitáveis — o que menos importa é o modal utilizado. Segundo nossos anfitriões, o ramal ferroviário foi extinto, pois a quantidade de passageiros transportados era insuficiente para custear manutenção e melhoramento do sistema.

Anos se passaram e a população se viu obrigada a buscar outras soluções, a maior parte delas de natureza individual através do uso do automóvel. Inspirados numa tecnologia alemã, os gestores do transporte público, responsáveis pelos serviços em Cambridge e cidades vizinhas, resolveram trocar os antigos trilhos por calhas de concreto de uso exclusivo dos ônibus. O resultado é uma “busovia” (perdoem o termo), com pequenos abrigos e passagens ou travessias para o sistema viário existente.

O interessante do sistema é sua flexibilidade. Nas horas de pico, os ônibus costumam ser substituídos por outros de dois andares. Se a demanda aumentar em breve, pequenas obras de extensão das “plataformas” serão mais do que suficientes para a adoção de ônibus articulados ou até mesmo biarticulados. A oferta poderá, portanto, crescer bastante até que o modal necessite ser trocado por outro de maior capacidade. Uma solução absolutamente ajustada às necessidades dos usuários e sustentável. Na expectativa do ótimo, por vezes toleramos o provisório. Somos levados a pensar dentro do quadrado. A lição dos ingleses é pedagógica e estimulante. É sempre possível fazer mais com menos. Dá trabalho, mas no final todos ganham.

(Foto: Maria Fernanda Cavalcanti/WRI Brasil | EMBARQ Brasil)

* Vicente Loureiro é urbanista e diretor-executivo do Grupo Executivo de Gestão Metropolitana

Artigo originalmente publicado na edição impressa do Jornal Extra, em 9 de julho de 2015.

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