A bicicleta é agradável de andar, saudável e benéfica à cidade, pois evita viagens motorizadas. Embora traga tantos benefícios, está fora do radar de planejadores urbanos que projetam vias voltadas a carros pelo mundo.
O Copenhagenize fez um estudo justamente para preencher essa lacuna e descobrir as linhas de desejo dos ciclistas, ou seja, os caminhos estabelecidos por eles, independentes de infraestrutura própria para a bicicleta ou não.
“Linhas de desejo são a expressão mais bonita do planejamento urbano e são tão antigas como o homo sapiens”, diz Mikael Colville-Andersen, CEO do Copenhagenize, em vídeo (assista abaixo) sobre o tema. “Sabemos que o foco em muitas cidades é o plano diretor, que mostra a visão de futuro da cidade, e se baseia em fluxo, dados. Mas há modos mais efetivos de planejar e facilitar a acessibilidade das pessoas, porque no fim do dia elas mostram aonde querem ir”.
A primeira parte desse estudo, intitulado “A Coreografia da Interseção Urbana” (tradução livre), diz respeito a bikes e comportamento. Foram analisados, por 12 horas, nada menos que 16.631 ciclistas em oito cidades – Rio de Janeiro, Cidade do México, Copenhague, Amsterdã, Tóquio, Cape Town, Paris e New York. O objetivo foi explorar detalhes antropológicos dos ciclistas e sua interação com os demais usuários da via e com o desenho urbano.
O estudo permitiu identificar três categorias de ciclistas:
- Conformistas – 93% dos usuários. Eles seguem regras de forma precisa. Ou seja, respeitam toda sinalização a rigor, mesmo se não há sinalização específica para bikes, e sim para os carros.
- Prudentes – 6% dos ciclistas observados. Eles seguem a própria vontade para manter um fluxo estável e vão se ajustando às vias, o que inclui conversões à esquerda ou direita de forma cuidadosa com os pedestres.
- Rebeldes – 1% dos observados, o que podemos chamar de o mau ciclista, aquele que pedala entre os carros, não cuida o semáforo e faz conversões perigosas. Em contraste com o método legal de andar em linha reta através de um cruzamento, virar 90 graus e travar a luz antes de continuar na nova direção.
A partir dos resultados, o Copenhagenize criou uma metodologia de análise da vida urbana: a Desire Line Analysis Tool, ou Ferramenta de Análise de Linhas de Desejo, em tradução livre. Com ela, os planejadores urbanos têm na atividade humana a matéria prima para projetar as vias e interseções.
O estudo foi apresentado em 2013, e desde então, o Copenhagenize, planejadores, antropologistas e urbanistas trabalharam para melhorar a infraestrutura para ciclistas. Veja um exemplos de linha de desejo que virou rota permanente em Copenhague:
Observar as linhas de desejo das pessoas é uma forma que vai além de dados e estatísticas, planos diretores e outros indicadores: é o movimento humano para planejar. O conjunto de ferramentas para qualificar e servir os usuários da via de forma eficiente e principalmente segura é benéfico para todos.
Assista ao video abaixo para saber mais sobre as linhas de desejo: