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Nossa Cidade: a qualificação do espaço a partir da infraestrutura

O projeto Nossa Cidade, do TheCityFix Brasil, explora questões importantes para a construção de cidades sustentáveis.

A cada mês um tema diferente.

Com a colaboração e a expertise dos especialistas da EMBARQ Brasil, as séries trazem artigos especiais sobre planejamento urbano, mobilidade sustentável, gênero, resiliência, entre outros temas essenciais para um desenvolvimento mais sustentável de nossas cidades.

 

 

A qualificação do espaço a partir da infraestrutura

Calçadas para andar, ciclovias para pedalar e uma via livre para o ônibus passar. Segurança para parar e esperar, enfim atravessar. Sentar e observar, ler um livro, conversar. Viver com calma e sem pressa, na certeza de chegar ou de permanecer. Estática ou em movimento, a vida nas cidades simplesmente acontece. E ela depende basicamente de duas constantes: as pessoas e o espaço.

Nesse mês, o Nossa Cidade já falou sobre o papel que o espaço público desempenha na vida urbana. Versou, também, sobre a transformação da cidade a partir do espaço. Hoje, vamos inverter um pouco a ordem e analisar o espaço público a partir da infraestrutura urbana. Traremos hoje a experiência de duas cidades brasileiras que estão mostrando que é possível planejar uma infraestrutura que atende às necessidades da cidade e também fomenta melhores espaços públicos para as pessoas.

Pense bem: de toda infraestrutura que existirá nas cidades até 2050, 75% ainda nem existe, o que é um desafio e tanto para os tomadores de decisão. O planejamento feito hoje deve assegurar o direito maior das pessoas amanhã e sempre, que é a liberdade. A infraestrutura tem impactos diretos no espaço público, portanto é intimamente relacionada à qualidade e vida e o modo como se vive na cidade. Por exemplo, se o desenvolvimento urbano for centrado em vias livres para carros e pouca qualificação de calçadas, é improvável que aproveitemos a cidade a pé ou de bicicleta. Se houver calçadas e ciclovias contínuas, faixas de pedestres, acessibilidade e mesmo um banco pra sentar na praça, seremos encorajados a usar essas facilidades.

O exemplo de Belo Horizonte ilustra essa máxima. Foi preciso um sistema BRT (Bus Rapid Transit) inteiro para transformar uma avenida antes movimentada por carros no coração da cidade. O BRT Move foi implantado para aliviar os congestionamentos e agilizar a viagem para 500 mil usuários que têm o tempo de viagem reduzido em até 40%, em média. Além de cumprir seu propósito inicial, o sistema revitalizou toda a área central da capital. A Avenida Paraná ganhou canteiro central, pistas do BRT, ciclovias e conectividade segura entre uma calçada e outra, aproximando as pessoas do comércio, da própria cidade e umas às outras.

Veja algumas fotos:

(Foto antes: Google Maps. Depois: Luísa Zottis/WRI Brasil | EMBARQ Brasil)

(Foto: Mariana Gil/WRI Brasil | EMBARQ Brasil)

São Paulo é outra cidade que vem mostrando como se planeja uma infraestrutura com as pessoas no foco. Um exemplo é a política pública que regulamenta a instalação de parklets pela cidade. Neles, os carros cedem um local para que a comunidade construa seu espaço de convívio e socialização. São também um escape para descansar da pesada rotina de quem vive e trabalha mais agitada do país. Podem ser equipadas com bancos, floreiras, mesas, cadeiras, guarda-sóis, aparelhos de exercícios físicos, paraciclos ou outros elementos de mobiliário. Parklets são a essência do que um espaço público de qualidade representa na vida urbana.

(Foto: Fabio Arantes/Prefeitura de São Paulo)

(Foto: Fabio Arantes/Prefeitura de São Paulo)

As bicicletas também vêm ganhando cada vez mais destaque no cenário predominantemente tomado pelo veículo individual motorizado. São Paulo fez investimentos massivos na implantação de ciclovias, medida que resultou no dobro de pessoas pedalando em apenas um ano. A infraestrutura veio lançar luz à falta de espaço para trafegar com qualidade numa cidade de 11,8 milhões de habitantes que bate recordes de congestionamento a cada ano e tem baixos índices de qualidade do ar. Mas vale lembrar que ciclovia deve vir acompanhada por outras infraestruturas que envolvem paraciclos, sinalização viária para todos os usuários da via e medidas que regulam velocidade máxima permitida e outros aspectos essenciais à segurança no trânsito.

São Paulo está investindo no transporte por bicicleta com um conjunto de infraestruturas que promove a melhoria dos espaços públicos. (Foto: Mariana Gil WRI Brasil | EMBARQ Brasil)

São Paulo. (Foto: Mariana Gil/WRI Brasil | EMBARQ Brasil)

A infraestrutura urbana é necessária para cidades cada vez mais eficientes e funcionais. Quando ela implica em intervenções de design por um espaço público melhor, pode tornar as cidades mais humanas se bem planejada. Belo Horizonte e São Paulo vêm mostrando que vale a pena trabalhar por um futuro mais sustentável e com qualidade de vida. No fim das contas, nem toda obra sairá perfeita, o que é improvável com a burocracia que as cidades em enfrentam pelo caminho. Mas é preciso atender minimamente as necessidades urbanas da melhor forma, um passo de cada vez, tendo em mente como cada infraestrutura vai impactar o espaço. Se tomadores de decisão priorizarem o bem estar humano, certamente seus projetos irão refletir esse ideal.

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