
Como parte de sua estratégia de gestão de demanda de viagens (TDM), São Paulo está firmando parcerias com empresas para reduzir o número de carros, criando ruas orientadas às pessoas (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)
Este post foi escrito por Katerina Elias-Trostmann, Peter Valk e Guillermo Petzhold e foi originalmente publicado TheCityFix e no WRI Insights.
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Um século de desenvolvimento urbano carrocêntrico deixou nossas cidades poluídas, congestionadas e à procura de soluções sustentáveis. Estratégias de Gestão de Demanda de Viagens (Transport Demand Management – TDM) podem oferecer essas soluções ao unir políticas públicas e inovações do setor privado para reverter a dependência dos automóveis individuais. A série Moving Beyond Cars – produção exclusiva do TheCityFix e do WRI Insights – apresenta soluções de TDM no Brasil, na China, na Índia e no México, mostrando como as cidades podem restringir a cultura do carro e tornar o transporte sustentável uma realidade.
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A população de São Paulo está crescendo – assim como os congestionamentos. Os moradores da maior cidade da América Latina fazem mais de 43 milhões de deslocamentos todos os dias, e em torno de 30 milhões deles são feitos em veículos, em sua maioria privados. A média de tempo gasto nos deslocamentos diários de carro em São Paulo é de 1,5 horas, e a produtividade perdida com os congestionamentos equivale a 7,8% do PIB da área metropolitana.
Ao passo que a cidade continua a crescer, a administração municipal sabe que as pessoas vão precisar de uma maneira melhor e mais sustentável de se deslocar. Reduzir o número de carros nas ruas por meio de medidas de TDM é uma solução promissora.
A primeira experiência de gestão de demanda de viagens em São Paulo
O WRI, a EMBARQ Brasil e o Banco Mundial lançaram um projeto piloto de TDM em 2012 em uma das áreas mais congestionadas da cidade, ao longo do Rio Pinheiros.
O projeto foi o primeiro do tipo no Brasil e trabalhou com 20 empresas que empregavam juntas mais de mil funcionários. No início, mais da metade deles dirigia ao trabalho sozinho, enquanto menos de 20% usava o transporte coletivo. Ao final da iniciativa, o número de funcionários dirigindo sozinhos para o trabalho caiu 17%, e os que utilizavam meios de transporte coletivo aumentou 10%.
As empresas envolvidas no projeto buscaram três grandes mudanças, criando benefícios para elas próprias, para seus funcionários e para a cidade.
1. Quantificar o impacto
Historicamente, grande parte das empresas no Brasil nunca percebeu que o papel que tinham no deslocamento de seus funcionários ia muito além de oferecer estacionamento. O pensamento era de que a responsabilidade de melhorar a mobilidade cabia somente ao setor público.
Os pesquisadores, então, ajudaram as empresas participantes do piloto a coletar dados sobre quanto os longos deslocamentos custavam a seus negócios. No momento em que compreenderam os impactos econômicos dos congestionamentos, as empresas mostraram-se dispostas a buscar soluções para estimular o uso da bicicleta como meio de transporte, e os funcionários apontaram melhora na saúde e no bem-estar como resultado.
2. Usar incentivos para superar barreiras culturais
Para muitos brasileiros, ter um carro é um demonstrativo de status social. E os empregadores podem exercer um papel importante no processo de reverter essa cultura ao oferecer educação e incentivos.
Algumas das empresas participantes do projeto lançaram campanhas educativas para promover modais mais sustentáveis de transporte. Outras ofereceram rotas personalizadas e kits de mobilidade com as paradas e conexões mapeadas. Outras ainda desencorajaram o uso do transporte individual dando incentivos financeiros para o transporte coletivo ou garantindo vagas de estacionamento mais bem localizadas ou com desconto para os funcionários que oferecessem caronas aos colegas.
3. Envolver os líderes
Finalmente, o projeto mostrou que o engajamento é maior entre as empresas cujos líderes estão envolvidos com a iniciativa desde o começo e entendem o impacto da mobilidade no desempenho da empresa. Naquelas onde a liderança não estava envolvida, as medidas de TDM acabaram sendo deixadas de lado com o tempo. Para assegurar mudanças culturais e de comportamento em longo prazo, os líderes precisam demonstrar comprometimento aplicando planos de mobilidade corporativa e meios alternativos de transporte no ambiente de trabalho.
Próximos passos para TDM no Brasil: dimensionando e ampliando
Medidas de TDM são uma estratégia efetiva para tornar a mobilidade corporativa mais sustentável, mas ainda não são naturais para as empresas brasileiras. É preciso que ocorra uma mudança fundamental não apenas nas prioridades e na cultura corporativas, mas também no governo e nas políticas municipais. E isso leva tempo. O WRI Brasil e a EMBARQ Brasil estão agora expandindo esse programa piloto para algo maior, a Plataforma Conexões Rio Pinheiros, que une 20 empresas membros e órgãos governamentais a outros atores-chave na região com o objetivo de testar e ampliar soluções de mobilidade.
Essa abordagem será essencial para fazer de São Paulo uma cidade mais sustentável e que tenha na mobilidade urbana uma prioridade, como já foi estabelecido em agosto de 2014 pelo novo Plano Diretor Estratégico. Especificamente, o plano enfatiza a restrição da cultura do carro e reconhece a conexão essencial entre mobilidade urbana e qualidade de vida. Uma vez que o novo plano de São Paulo foi considerado um marco para o desenvolvimento urbano no Brasil, esperamos que as soluções propostas funcionem bem na capital paulista e sejam replicadas em outras cidades latino-americanas.
Se a capital do congestionamento na América do Sul consegue, por que não outras cidades pelo mundo?