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“Não podemos defender algo que não praticamos”

Uma vez por semana, a Secretaria de Cidade Sustentável de Salvador fica no Parque da Cidade (Foto: Fernando Vivas/Ag. A TARDE)

A fala é de André Fraga, Secretário de Cidade Sustentável de Salvador, que uma vez por semana opta por trabalhar no Parque da Cidade e percorre de bicicleta o trajeto de 20 km de sua casa até lá. Ele assumiu a secretaria em abril, aos 30 anos, tornando-se o secretário mais jovem da atual gestão.

Em entrevista à equipe do TheCityFix Brasil, André fala sobre os projetos de Salvador, o papel da Prefeitura na mudança de comportamento das pessoas quanto ao transporte e a importância da participação popular na construção de uma cidade sustentável.

 ***

Tu és um dos mais jovens da atual gestão em Salvador, certo? O que a juventude pode agregar à esfera pública?

Tenho 30 anos e sou o Secretário mais jovem da gestão municipal. Penso que quadros jovens trazem uma vontade a mais, além de uma conexão maior com a inovação. Claro que essas características não são apenas dos jovens, mas elas estão mais desenvolvidas nos jovens.

 

Bicicleta: costuma andar sempre? Quais as influências desse hábito no dia a dia?

Uso a bicicleta como meio de transporte uma vez por semana para ir ao trabalho. São 20 km entre minha casa e o Parque da Cidade, onde escolho trabalhar nesse dia. Optei por desenvolver essa rotina para sentir o que o cidadão sente ao ir para o trabalho de bicicleta. Além do mais, não dá para defendermos algo que não praticamos. No dia que sigo de bicicleta, o trabalho rende muito mais e me sinto muito mais disposto.

 

Salvador pretende expandir a malha de ciclovias e ciclofaixas para 90 km. No Brasil, São Paulo é uma das capitais que mais tem investido no modal. Salvador se inspira em algum exemplo? Quais as próximas metas?

O programa de desenvolvimento de infraestrutura cicloviária de Salvador é tocado diretamente pelo gabinete do prefeito. Pelo Planejamento Estratégico desenvolvido e apresentado à sociedade, teremos 90 km de espaços para bicicletas até 2016. Recentemente, o prefeito revisou a meta para 300 km. As inspirações têm sido as cidades que optaram por priorizar a bicicleta: Bogotá, Amsterdã, Copenhague.

 

Como convencer as pessoas a tentarem alternativas mais sustentáveis de transporte e qual o papel da prefeitura nesse processo?

A prefeitura deve atuar como um agente indutor dessa mudança. Salvador tem certas características que demandam determinadas infraestruturas para a popularização da bicicleta. Por exemplo, temos um clima tropical o ano inteiro e muitas subidas, o que precisa ser acompanhado de infraestrutura para banho e a troca de roupa para quem escolher se deslocar de bicicleta. Quando os meios estão à disposição, as pessoas participam. Estamos implementando o IPTU Verde, que estabelece, entre outros critérios para o desconto no IPTU, a presença desse tipo de infraestrutura no empreendimento.

 

Salvador fez grandes mudanças na Orla da Barra. Fechar uma rua para os carros é uma medida que simboliza a prioridade às pessoas e ao transporte não motorizado. Qual a importância desse tipo de mudança para a capital baiana?

Salvador está voltando a ser ocupada pelas pessoas. A equipe liderada pelo prefeito ACM Neto tem desenvolvido um trabalho para que esse retorno seja acompanhado dos mais atuais formatos de vida urbana. Percebemos como a autoestima do soteropolitano tem sido elevada com essas iniciativas.

 

O Observatório da Sustentabilidade é pioneiro no país. O que a iniciativa representa para a cidade e o que propõe?

É o primeiro Observatório Público. O Instituto ETHOS, promotor do Programa Cidades Sustentáveis, de onde frutificou o Observatório, transformou essa ideia em orientação para que outras cidades signatárias também desenvolvam esse formato. A ideia motriz do Observatório é acompanhar as metas assumidas pela gestão, a partir de ferramentas e instrumentos próprios.

 

Como se faz uma cidade sustentável?

Com participação. A cidade é de todos, e todos precisam se entender como “construtores” de uma cidade sustentável. Essa cidade é um novo paradigma, e, por isso, tem em sua base a necessidade de mudança cultural e uma forte demanda educacional.

 

Qual a visão para o futuro de Salvador?

Nesse momento estamos discutindo o projeto Salvador 500, que pensará nossa cidade em 2049, quando completarmos 500 anos. Essa visão será construída com todos os atores. A partir daqui, pretendo me dedicar, em qualquer posição, a construir nossa Salvador Sustentável.

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