
Passageira a bordo de ônibus em Brasília, DF. Após as dez da noite, mulheres podem desembarcar fora do ponto de ônibus. (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)
A tomada de decisão por este ou aquele meio de transporte está atrelada a diversas variáveis, como a praticidade, economia, tempo, confiabilidade e conforto. Uma delas é a percepção de segurança dos usuários, especialmente das mulheres. Ninguém prefere embarcar no transporte coletivo se o ponto é longe de casa e o caminho é escuro ou deserto, por exemplo, mesmo que haja baixa incidência criminal na região. O instinto diz que é inseguro andar ali e pronto.
No Distrito Federal, uma importante medida vem sendo adotada no que concerne à segurança feminina. Depois das 22h, as mulheres que estiverem no ônibus podem solicitar desembarque em qualquer lugar, mesmo fora do ponto – desde que esteja na rota da linha em questão. Além da obrigatoriedade em atender ao pedido das usuárias, todos os ônibus da frota devem ter a informação visível, para que elas estejam cientes desse direito.
Um estudo sobre a mobilidade urbana no DF buscou desvendar quais aspectos tinham impacto sobre a forma de deslocamento urbano. Entre os dois principais fatores de escolha, estão as características da linha (abrangência espacial, custo, comodidade), precedidas de perfil do usuário (sexo, idade, renda, motivo da viagem – lazer, trabalho, estudo). “A parada de ônibus normalmente fica longe e, quando volto da faculdade, ao descer, não tem quase ninguém nas ruas. Como ando sozinha, tenho de ficar bem atenta para não correr nenhum risco”, declarou a universitária Amanda Stheffany Ferreira, 19 anos, ao site oficial da Secretaria de Estado de Transportes do DF, a DFTrans. Desde junho, quando do início da medida, Amanda pode descer mais perto de casa.
A decisão que vigora no DF nos remete a uma questão pouco discutida, e menos ainda levada em consideração nos sistemas de transporte das cidades: o gênero. A Comissão sobre o Status da Mulher das Nações Unidas criou um grupo de trabalho especialmente para debater a mobilidade urbana como forma de acesso. Este grupo reconhece a predominância masculina no planejamento e execução dos sistemas de transporte, seja pelo fato de a mulher não ter representação igualitária em todos os âmbitos, seja porque os homens no comando não estão considerando a questão do gênero na configuração deste sistema (leia mais).
A cada 12 segundos, uma mulher sofre violência sexual no Brasil. Todas as faces deste problema gravíssimo precisam ser revistas para reduzir este índice, que cresceu 165% nos últimos cinco anos. O papel da cidade é oferecer mecanismos de prevenção e defesa aos cidadãos. A opção de descer do transporte mais perto de casa não é a solução definitiva, nem final contra os perigos das ruas e do crime. Inclusive porque o assédio pode ocorrer até mesmo no interior dos veículos, conduta que também deve ser duramente desencorajada. Mas o fato de ter flexibilidade de desembarcar mais perto do destino, ou numa área menos escura, vazia, já conta pontos a favor da segurança.
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