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O que falta medir nas cidades?

Seminário “A Nova Economia da Mobilidade” realizado ontem (26), em São Paulo, reuniu nomes nacionais e internacionais para falar de mobilidade. À tarde, time jovem, mas que sabe o que fala, debateu novas perspectivas para o assunto. (Foto: Luísa Zottis/EMBARQ Brasil)

Um time jovem, mas de currículo extenso, lançou novas perspectivas para oxigenar o debate em torno da economia da mobilidade urbana. O encontro, que analisou o tema sob a ótica da inovação e do empreendedorismo, aconteceu durante seminário A Nova Economia da Mobilidade, realizado por WRI Brasil, EMBARQ Brasil (produtora deste blog) e Caronetas, e reuniu nomes como Natália Garcia, do Cidades para Pessoas, Adalberto Maluf, da BYD, Pedro Junqueira, do Centro de Operações do Rio de Janeiro, Pedro Monteiro, da Compartibike, e Edmar Cioletti, do Santander.

“A mobilidade afeta a todos por igual porque todos precisam se mover. Cada um se move de um jeito, e esse é o primeiro problema. Cada um tem uma versão diferente dessa história”, provocou Natália, instigando debatedores e público a analisar a forma como a mobilidade urbana é pensada. Foi o ponto de partida de um intenso e instigante debate durante a tarde de atividades.

Natália Garcia, do Cidade para Pessoas, moderou debate no seminário “A Nova Economia da Mobilidade”, nessa sexta-feira (26) em São Paulo. (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)

 A criadora do Cidade para Pessoas, que se tornou ícone na mobilidade sustentável no país, salientou a relevância dos dados na formação de um diagnóstico assertivo da mobilidade urbana. “Já temos pesquisas origem-destino, dados de frota, acidentes, um mais, outros menos eficientes. A pergunta é: o que falta medir? Que indicadores estão faltando para melhores tomadas de decisão?” Como exemplo, ela citou Copenhague, que desenvolveu um indicador econômico sobre o custo do carro e da bicicleta, medindo tempo de deslocamento, infraestrutura, gasto com saúde pública e poluição do ar. Com base em tais métricas, a cidade constatou que cada quilômetro pedalado gera 70 centavos de reais, enquanto que para cada quilômetro percorrido de carro, a cidade perde 30 centavos.

Pedro Junqueira sugeriu medir quanto custa a perda de tempo em decorrência da falta de integração entre órgãos públicos. Ele ilustrou com um caso ocorrido ainda nesta semana. “Teve um acidente de moto na linha vermelha, o motorista caiu e o trânsito parou, o que dificultou seu resgate. Qual foi o custo disso? Como eu preservo essa vida? E se o condutor estava sendo irresponsável?”. E se a burocracia, sugeriu, que atende esse indivíduo não se sobrepõe ao interesse de toda a cidade?

Edmar, do Santander, ilustrou a resposta com o exemplo da própria empresa. “Nós medimos facilmente os ganhos financeiros com nossas políticas de gestão de demanda de viagens. Mas não conseguimos medir o grau de qualidade de vida que o funcionário ganha com algumas dessas ações”.

Já Adalberto Maluf parafraseou Michael Bloomberg, dizendo que “você só pode gerir o que pode medir”. Para ele, as políticas públicas dispõem de poucas métricas e indicadores. “Dados europeus e chineses mostram que a poluição da cidade tem uma parcela de 30% advinda de ônibus e táxis”, afirmou. “E se substituíssemos a frota por veículos elétricos? Seriam 30% menos – instantaneamente – emissões”.

Pedro Monteiro, da Compartibike, lembrou que em São Paulo se perde um mês ano ano no congestionamento, o que corresponde a 2h47 minutos por dia. Natália lembrou que a velocidade média na capital em horas de pico é de 13 km/h. “A irracionalidade nos fez chegar a esse lugar”, lamentou. Monteiro mencionou que o aspecto financeiro é inegavelmente utilizado como métrica, mas que sente falta de fatores como o bem estar, a saúde, a felicidade. “Falta uma análise holística, conectar tudo isso em um só índice. Na minha empresa, a gente reúne o máximo de dados para planejar a expansão, novos projetos e melhoria. É isso que faz um bom planejamento”.

Garcia mencionou uma prática peculiar: em Boston, o sistema bike-share pode estar na receita médica. Caso o médico constate que problemas de saúde de seu paciente são decorrentes do sedentarismo, o bike-share é prescrito na receita, como um remédio, o que gera um bom desconto no aluguel da bicicleta. “Está no DNA da iniciativa privada pensar para o futuro. Cidades resolvem os problemas recorrentes, e as empresas têm essa habilidade e capacidade de pensar o futuro”, concluiu jornalista.

Da esquerda pra direita: Edmar Cioletti, Pedro Monteiro, Pedro Junqueira e Adalberto Maluf. (Foto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil)

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