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Entrevista: Jilmar Tatto fala sobre protagonismo do transporte sustentável em São Paulo

Jilmar Tatto, secretário de transportes de São Paulo, e prefeito Fernando Haddad visitam novo parklet da capital nesta quarta-feira, 24. (Foto: Luísa Zottis/EMBARQ Brasil)

São Paulo é uma cidade altamente congestionada. Contudo, graças a políticas de priorização do transporte coletivo e sustentável, vem ganhando nova identidade. À medida que implanta novas faixas de ônibus, ciclovias e espaços públicos voltados às pessoas, a cidade beneficia todos seus 11 milhões de residentes urbanos. Hoje, a capital conta com 355km de faixas exclusivas de ônibus e vem implantando 10km de novas ciclovias a cada semana. Nesta quarta-feira (24), como parte dos esforços para tornar-se uma cidade mais humana, São Paulo ganhou o sétimo parklet – um miniparque público de convivío ao ar livre, onde antes havia vagas de estacionamento. Na inauguração, aproveitamos para conversar com o secretário municipal de transportes, Jilmar Tatto, que estava presente no evento, sobre o panorama do transporte sustentável na capital paulista.

A implantação de ciclovias acontece em ritmo acelerado em São Paulo. Vocês se inspiraram em alguma outra cidade no mundo?

Jilmar Tatto: A meta do programa do prefeito Fernando Haddad é a construção de 400km de ciclovias até o final do ano que vem. Há 25 anos, desde que iniciou a implantação de ciclovias, a São Paulo tinha apenas 63km. Somente neste ano, implantamos 78km e entregamos, a cada semana, pelo menos 10km. Para nosso projeto, nós buscamos experiências bem sucedidas e posso destacar duas cidades que nos inspiraram: Nova York, nos Estados Unidos, e Buenos Aires, Argentina. Nosso objetivo foi criar soluções simples de ciclovias. E que solução é essa: tirar estacionamento de carros das ruas. Preferencialmente, não implantamos a ciclovia nas calçadas e não excluímos a via do carro. Nós definimos diretrizes, e uma delas foi remover os veículos estacionados nas ruas e dar espaço ao ciclista, que ainda é um ser invisível.

E quanto à integração da bicicleta com outros modais de transporte?

Jilmar Tatto: Pelo código nacional de trânsito, é obrigatório dar espaço ao ciclista. A bicicleta é um modal de transporte, e como todos os modais, também pensamos na sua integração com o ônibus, com o metrô. Mas além disso, é importante integrá-la a equipamentos públicos: praças, escolas, hospitais. A importância disso é que, como um modal de transporte ativo, os ciclistas não só ganham mais saúde, como melhoram a qualidade de vida na cidade e se apropriam do espaço público que até então era utilizado de forma privada, com os automóveis. É um carro a menos em circulação. Essa ideia de construir viadutos e avenidas ou tirar espaço do pedestre e do ciclista em favor do carro representa uma mentalidade atrasada. Que vai contra as tendências e acontecimentos hoje no mundo todo. Cada vez mais o transporte não motorizado está ganhando espaço. E é isso que estamos fazendo na cidade de São Paulo.

Priorização ao transporte coletivo é um processo de mudança de cultura, afirma secretário Tatto. (Foto: Fabio Arantes/Prefeitura de São Paulo)

Como estabelecer políticas públicas que perdurem com o passar das gestões?

Jilmar Tatto: Nós estamos implantando uma política apartidária. Isso é uma conquista da cidade de São Paulo, um novo conceito de pensar a cidade. Se pensarmos esta questão do ponto de vista da qualidade do transporte público, das ciclovias instaladas na cidade, entendemos que é uma questão sem volta. Um exemplo disso é o Bilhete Único, criticado quando de sua implantação, mas que nenhuma gestão conseguiu banir. O povo não deixa. Como é o caso das ciclovias: uma vez implantadas, ninguém as tira. Outro exemplo são os parklets, que ocupam o espaço antes utilizado pelo carro. Não importa o governo, são medidas definitivas porque a população começa a se apropriar delas. Ou seja: é um patrimônio para São Paulo.

E quanto à resistência de pessoas que ainda não aceitam o protagonismo do transporte sustentável na cidade?

Jilmar Tatto: Tudo que é novo tem resistência. As pessoas não estão acostumadas, então  é um processo de mudança de comportamento. Em certo ponto, a pessoa acostumada a andar de carro todos os dias para ir ao trabalho vai se dar conta: ‘estou no trânsito, poluindo, atrapalhando as pessoas. Tenho que mudar meu comportamento’. Tal mudança é difícil, leva tempo, mas a cidade está respondendo bem. A cada dia que passa a resistência diminui, e o amplo apoio da população em relação às faixas de ônibus e criação de ciclovias chegou para ficar.

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