
Em Nova York, a marcha pelo clima reuniu cerca de 400 mil pessoas: “Para mudar tudo, é preciso de todo o mundo”. (Foto: South Bend Voice/Flickr)
Na semana em que representantes de países do mundo inteiro estão reunidos em Nova York para a UN Climate Summit, o jornal britânico The Guardian atualizou o Carbon Map, ferramenta interativa que permite ao usuário comparar uma série de dados relativos às mudanças climáticas e emissões de poluentes e ver como eles se correlacionam em escala global.
Desenvolvido pelo estúdio Kiln, o mapa foi originalmente criado como um aplicativo para o concurso Apps for Climate, do Banco Mundial. A plataforma usa distorções, movimento e diferentes gradientes de cores para ajudar a mostrar como diferentes países no mundo se encaixam no cenário das mudanças climáticas, considerando causas, riscos e impactos.
Por décadas, pesquisas científicas alertaram: nosso planeta está mudando, e os impactos das mudanças climáticas sobre nós serão profundos. Hoje, não falamos mais de alertas. Populações do mundo inteiro sofrem com os efeitos do que se tornou uma realidade.
A temperatura média na Terra subiu 0,75°C desde a Revolução Industrial e, mantidos os atuais níveis de emissões, nos próximos quarenta anos o planeta pode estar até 3°C mais quente em relação à era pré-industrial. Em muitos países, as emissões mais que duplicaram nos últimos vinte anos. Na China, os índices chegaram a quadruplicar.
O Brasil também aparece entre os mais poluentes. Aqui, as emissões entre 1990 e 2013 mais que dobraram, sofrendo um aumento de 130%. Só no ano passado, o país emitiu 481 milhões de toneladas de CO₂ – 2,4 toneladas por habitante.
Em 2012, fenômenos climáticos extremos custaram aos Estados Unidos mais de 100 bilhões de dólares. Mas são os países mais pobres e com os menores índices de emissões os mais impactados. Enquanto os Estados Unidos emitiram 5,23 bilhões de toneladas de CO₂ em 2013, na Etiópia esse índice foi de apenas 6,8 milhões de toneladas. Em contrapartida, a diferença entre os dois países no que tange ao número de pessoas em risco em decorrência de eventos extremos causados pelo clima é igualmente desproporcional.
As mudanças climáticas não são causadas nem podem ser explicadas por fatores isolados, como o índice de emissões por país ou per capita. Trata-se de um conjunto muito mais complexo, de variáveis inter-relacionadas e cujos efeitos têm alcance global.
Para obter um cenário mais abrangente, contemplando as diferentes nuances que sobre ele têm influência, o mapa reúne dados de diferentes fontes e mostra de onde é feita a extração dos combustíveis fósseis que depois se tornam CO₂, onde são queimados (emissões) e onde os bens e serviços gerados a partir desse processo são mais consumidos.
Junto a essas informações, a ferramenta também oferece uma visão do passado, somando as emissões acumuladas nos últimos 150 anos (histórico) e uma perspectiva para o futuro, a partir das reservas estimadas de combustível fóssil em cada país.
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Mapas colocam na tela cenários que são reais. Os dados trazidos pela plataforma refletem situações em curso no dia a dia de bilhões de pessoas. Desde o último verão, que foi insuportável, passando pela seca em São Paulo, as enchentes no Rio de Janeiro e em Santa Catarina e os estragos do furacão Sandy na costa leste dos Estados Unidos, incluindo a própria Nova York.
E foi lá que, nessa terça-feira, 23, Barack Obama discursou na UN Climate Summit. O presidente estadunidense referiu-se às mudanças no clima como a questão que vai definir os contornos dos próximos cem anos de forma mais dramática do que qualquer outro desafio imediato enfrentado hoje pelo mundo.
Um furacão deixou parte desta mesma cidade [Nova York] sem luz e debaixo d’água e muitos países já vivem em situação muito pior. O último verão foi um dos mais quentes da história em todo o mundo. E as emissões globais continuam a subir. O clima está mudando mais rápido do que nossos esforços para impedir essas mudanças. As pessoas estão em marcha, pedindo mudanças. Nós precisamos responder esse chamado. E nós sabemos o que deve ser feito. Precisamos cortar as emissões em nossos próprios países, mas também precisamos agir juntos, como uma comunidade global, para conter uma ameaça que também é global. Como disse um dos governadores dos Estados Unidos: nós somos a primeira geração a sentir os impactos das mudanças climáticas e a última geração que pode fazer algo para mudar.
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