
Participantes do “Papo Reto: Como promover a bicicleta em comunidades”, em São Paulo. (Foto: Filipe Costódio / EMBARQ Brasil)
Para seguir os mandamentos de qualquer cidade mais humana e democrática é preciso garantir antes de tudo a mobilidade de seus moradores. De preferência, oferecendo uma ampla rede de alternativas de transporte. No caso de São Paulo, a Secretaria Municipal de Transportes anunciou, no começo do mês passado, a implantação de 400 km de ciclovias até 2016. O Programa de Metas do governo municipal defende a ampliação do uso da bicicleta como meio de transporte nas principais ruas da capital paulista, mas os ciclistas praticantes querem saber mesmo como será atendida a população que vive na periferia, parcela que mais pode se beneficiar com essa alternativa de transporte barato e eficiente.
Pensando nisso, a organização Bike Anjo convidou diversos especialistas, cicloativistas e defensores do uso da bicicleta além dos fins de semana, para discutir os projetos que já chegaram a estes locais mais afastados. O debate “Papo Reto: Como promover a bicicleta em comunidades” reuniu iniciativas que estão agregando cada vez mais adeptos da mobilidade urbana sustentável e pregadores do direito de ir e vir com mais segurança.
A coordenadora de Projetos de Transporte da EMBARQ Brasil (produtora deste blog), Paula Santos Rocha e a especialista em Desenvolvimento Urbano, Lara Caccia, foram convidadas para apresentar o Manual de Projetos e Programas para Incentivar o Uso de Bicicletas em Comunidades, lançado em maio no Rio de Janeiro e apresentaram os elementos básicos de um sistema cicloviário de qualidade.
A jornalista Natália Garcia, colunista da revista Superinteressante e idealizadora do projeto Cidades Para Pessoas, trouxe os resultados da sua pesquisa, que envolveu propostas inovadores de 12 cidades ao redor do mundo (ver entrevista abaixo), seguida de Evelyn Araripe, coordenadora do projeto Escolas de Bicicleta em São Paulo e sócia-fundadora do espaço oGangorra, em Pinheiros, local onde foi realizado o encontro com apoio do coletivo Las Magrelas.
Murilo Casagrande, coordenador do projeto Pedala Zezinho/Aromeiazero, falou da iniciativa que estimula a autonomia dos jovens, incluindo o conserto de bicicletas e aulas rápidas sobre mecânica, com as Oficinas de Bicicleta. Já Lincoln Paiva, criador do Pedal Social, relembrou o início das suas intervenções no espaço público, quando instalava bicicletários em vagas que seriam de carros nas ruas, tentando com isso expandir a cultura do pedal. Hoje ele é presidente do Instituto de Mobilidade Verde. Irene Quintáns, criadora da Red Ocara, especialista em estudos territoriais, políticas sociais e mobilidade, falou do processo de urbanização de Paraisópolis, segunda maior favela de São Paulo e trouxe diversos exemplos de projetos que distribuem bicicletas para crianças poderem ir para a escola sem recorrer ao transporte público.
Assista ao debate, com duração de 130 minutos, na íntegra.
As cidades das pessoas

A jornalista Natália Garcia com o manual da EMBARQ Brasil defende que os ciclistas devem ser ouvidos. (Foto: Filipe Costódio / EMBARQ Brasil)
Natália Garcia, após peregrinar por cidades como Copenhague, Amsterdã, Londres, Paris, Friburgo, Estrasburgo, Lyon, Barcelona, São Francisco, Portland, Cidade do México e Nova York, descobriu que os dados que um dia saiu para coletar, acompanhada pela também jornalista Juliana Russo, traziam ideias urbanísticas que serviriam de exemplo para qualquer cidade brasileira, mesmo que elas sejam diferentes entre si.
“Cada cidade tem suas demandas e os ciclistas são os que melhor as conhecem. A bicicleta é uma ferramenta poderosa para atacar os problemas da mobilidade e, por isso, os ciclistas devem ser cada vez mais ouvidos”, aponta Natália. Para ela, precisamos parar de colocar o carro como o vilão das grandes cidades. “O problema não é o IPI baixo [Imposto Sobre Produtos Industrializados, que o governo chegou a isentar para facilitar a compra de veículos], mas o uso irracional que se faz do carro. Esse é o problema que devemos enfrentar. Não a posse”, dispara.

“Apesar da admiração, David achou que pedalar nos bairros centrais é mais arriscado do que na periferia. ‘Sentimos que tinha mais carros, ônibus e caminhões, que nos respeitavam menos. Aqui, no bairro, as pessoas se conhecem mais e por isso o respeito é maior.’” – Na reportagem de Natália Zonta (centro) e Evelyn Araripe (à esq. na foto), publicada na revista Planeta Sustentável.
As iniciativas que a jornalista acumulou durante dois anos viajando, entre elas a Prescribe-a-Bike, na qual médicos da cidade de Boston prescrevem “bike-sharing” aos seus pacientes, estão em fase de publicação. “Estou procurando uma editora que esteja disposta a publicar o meu livro. Já estou compilando os resultados dessa viagem”. Natália também já prevê a realização da primeira oficina do projeto Cidades Para Pessoas, que está marcado para acontecer na Escola São Paulo, nos próximos dias 8 e 12 de setembro.