
PRT ou Personal Rapid Transit: um novo conceito de transporte vindo Masdar City, em Abu Dhabi (Foto: The Times/Reprodução)
Enquanto as cidades crescem e seus impactos só aumentam, planejadores de transportes se vêem limitados porque seus “cintos de utilidades” são os mesmos de um século atrás. Se eu pudesse ilustrar a atual situação do setor de transportes, seria mais ou menos como se estivéssemos numa daquelas antigas bibliotecas dos filmes do Harry Potter, enquanto o mundo lá fora está na era dos Jetsons. Mesmo com as emissões dos transportes atingindo níveis críticos para o futuro do planeta, ainda encontramos enorme dificuldade em trocar o carro por alternativas sustentáveis. Culpamos indiscriminadamente da acessibilidade aos aspectos sócio-culturais, mas a verdade que temos evitado por décadas é que o nosso planejamento talvez esteja sistemicamente ultrapassado. Por mais de meio século, planejamos nossas meios de transportes com os mesmos modelos, para cidades que mudaram completamente, e sociedades que agora vivem na era digital. Nesta série, uma série de estudos feitos em parceria com a JMP Consultants, abordarei algumas tecnologias que podem revolucionar o mundo dos transportes e a mobilidade urbana como conhecemos, assim como novas formas de planejamento para trazê-los ao século 21.
Diariamente, novas tecnologias são desenvolvidas e oferecem um potencial enorme de implementação, porém se não são integradas aos planos multimodais, acambam por se transformar em atrações turísicas de um parque de diversões. Estas tecnologias exigem novos modelos de planejamento para que sejam inovadoras e eficazes, juntamente com novos parâmetros de avaliação de longo prazo para calcular suas relações de custo-benefício. É extamente o caso dos trens MagLev, ou dos veículos driverless, ou então do assunto de hoje, os PRTs.

Os veículos combinam a privacidade e a comodidade do carro com os benefícios ambientais do transporte coletivo (Foto: Marcelo Blumenfeld)
No fim de 2013, tive a oportunidade de visitar Masdar City, uma das primeiras “Ecocidades” do mundo. Curiosamente situada em Abu Dhabi, um Emirado que está entre os maiores produtores de petróleo do mundo, este projeto é dedicado ao desenvolvimento de energias renováveis e tecnologias sustentáveis. A cidade de Masdar, projetada do zero, também abriga um instituto próprio dedicado às pesquisas nesta área. Uma das tecnologias colocadas em prática por lá é o Personal Rapid Transit, ou PRT abreviado, um novo meio de transporte que combina a privacidade do carro com os benefícios sociais e ambientais do transporte público.
O sistema consiste de pequenos veículos automatizados, com capacidade para até seis passageiros, trafegando por vias em nível, subterrâneas ou elevadas. O sistema de Masdar é em nível, como se fosse numa rua de concreto comum, ligando a entrada da cidade ao centro de pesquisas e áreas para visitantes. Estes pequenos carros são guiados por transponders instalados na superfícies, enquanto um sistema central também automatizado controla a velocidade de cada um e a plataforma na qual irão parar. É de uma precisão impressionante, com frenagens controladas à distâncias seguras e nenhum congestionamento ao servir as plataformas.
Os veículos são elétricos, portanto não emitem nenhum poluente, e incrivelmente silenciosos. De acordo com o fabricante, as baterias compõem apenas 5% do peso total do veículo. O design tem uma pitada futurista, e faz lembrar do filme Minority Report. Assim que um carro chega na plataforma, as portas se abrem; e, com o apertar de um único botão, a viagem de 3 minutos se inicia. Sentado em um banco revestido de couro e olhando pelas janelas e teto de vidro, é difícil de imaginar que é transporte público, quando comparamos com aqueles que andamos no dia-a-dia. Pela ausência de paradas, a viagem se assemelha à um taxi, porém nada impede que outras estações sejam colocadas no caminho, para permitir linhas mais longas e maior capacidade de passageiros por hora.
Apesar de Masdar ainda estar aberta apenas para visitantes, outros sistemas PRT estão sendo desenvolvidos ao redor do mundo, inclusive um já em operação na Inglaterra. O sistema britânico encontra-se em Heathrow, e liga o terminal 5 ao estacionamento. De acordo com o fabricante, PRTs têm um ótimo custo-benefício, entre US$7 e US$15 milhões por km. Comparando, um VLT custa aproximadamente o dobro disto. Por isto, cidades em Israel, Irlanda e Índia já estão desenvolvendo sistemas mais robustos para funcionar em meios urbanos e integrados a outros modais.
Com isto, o Personal Rapid Transit pode ser mais uma ferramenta no “cinto de utilidades”, oferecendo mais uma opção para as soluções integradas de transportes. Assim como todas as tecnologias, ele não será uma solução universal, mas pode ser uma peça a mais para solucionar o quebra-cabeça atual. Integrando novos modais de baixa capacidade com os tradicionais sistemas de massa, poderemos planejar cidades universalmente acessíveis e eficientes sem precisar recorrer aos carros para certas viagens.
Como Albert Einstein um dia disse, nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo grau de consciência que o gerou. Portanto, nós provavelmente não seremos capazes de solucionar os problemas globais de amanhã com as ferramentar com as quais trabalhamos hoje. É hora de dar um passo adiante e incorporar novas tecnologias ao planejamento, integrando-as com as soluções já existentes, para que possamos mudar o curso para um futuro mais sustentável.