Texto publicado originalmente em inglês no TheCityFix.

Cape Town, na África do Sul, é uma das cidades do C40 que estão repensando a gestão da demanda de transporte urbano, abrindo mais espaço para outras alternativas. (Foto: Warren Rohner/Flickr)
Mais de 70 por centro da população mundial viverá em cidades em 2050. Desse modo, os centros urbanos são o cenário chave para ações específicas e significativas que podem impactar e melhorar a qualidade de vida de bilhões de pessoas, além de amenizar os efeitos das mudanças climáticas.
Esse foi o principal assunto debatido na C40 Cities Mayors Summit, que aconteceu semana passada em Joanesburgo, na África do Sul. A conferência reuniu membros do C40 Cities, um grupo de prefeitos e representantes de mais 45 cidades comprometidas a combater as mudanças climáticas e promover a sustentabilidade urbana. Junto ao lançamento do relatório Climate Action in Megacities 2.0, que destaca as ações já postas em prática pelas cidades do C40, a conferência discutiu os desafios urbanos em relação à sustentabilidade. Uma mensagem clara despontou: se queremos criar ambientes urbanos habitáveis para uma população urbana em crescimento, as lideranças das cidades ao redor do mundo precisam tomar atitudes para promover o acesso a educação, emprego e serviços de saúde. Uma rede de transporte urbano sustentável e planejamento inteligente exercem papeis fundamentais na expansão desse acesso para todos os moradores de áreas urbanas.
Três desafios para criar cidades sustentáveis
As decisões tomadas hoje moldarão as cidades para o futuro. Cidades em desenvolvimento, em particular, têm a oportunidade de evitar a dependência do automóvel, planejando ambientes urbanos eficientes e acessíveis a todos. Essas cidades precisam pensar na forma urbana compacta de Barcelona e não para a expansão de Atlanta como um modelo de desenvolvimento. De qualquer forma, a criação de centros urbanos que sejam ao mesmo tempo prósperos e resilientes exige ações imediatas em alguns obstáculos:
- O aumento da motorização
O transporte motorizado privado é responsável por menos de um terço das viagens feitas nas cidades do C40, mas contribui com 73% das emissões de gases poluentes. As cidades simplesmente não podem atingir metas de redução de emissões e reduzir os impactos das mudanças climáticas sem um plano de gestão da demanda de transportes que propicie uma mobilidade segura e sustentável pata todos.
- Segurança viária
As mortes no trânsito são um enorme ônus na economia das cidades. Até 2030, acredita-se que as fatalidades em acidentes de trânsito tornem-se a quinta principal causa de mortes no mundo todo. Nenhuma cidade pode realmente se considerar habitável se não puder disponibilizar acesso seguro a bens, serviços e oportunidades para todos os moradores.
- Qualidade do ar
A deterioração da qualidade do ar e a poluição correm a uma velocidade desenfreada nas cidades de hoje. Neste inverno, por exemplo, a poluição atmosférica em Nova Delhi foi 60 vezes mais alta que o nível considerado seguro. Proteger a saúde de pessoas e ecossistemas significa reduzir os problemas de poluição nas cidades.
A resposta: soluções sustentáveis em escala
Esses desafios acumulam-se uns sobre os outros em um ciclo vicioso e profundamente arraigado. Mas entre eles existe uma oportunidade maior de reduzir as emissões de poluentes e gases de efeito estufa e ao mesmo tempo melhorar a qualidade de vida dos moradores urbanos – o transporte sustentável.
Pegue Cape Town, na África do Sul, por exemplo. De acordo com Garreth Bloor, representante público da cidade e palestrante na sessão “Gestão da Demanda de Transportes” da Cúpula C40, o setor de transportes é responsável por 27% das emissões de CO2 em Cape Town. Por conta disso, a cidade implementou em 2006 uma forte estratégia de gestão da demanda de transportes (TDM, na sigla em inglês) que inclui veículos com maior capacidade de ocupação e esforços para a introdução de pedágio urbano e de um sistema de transporte integrado e holístico nos próximos anos.
Olhando para além de Cape Town, outras cidades do C40 estão começando a tomar pequenas medidas para gerenciar melhor a demanda do sistema de transporte, integrando a rede de transportes com o planejamento do uso do espaço viário. O novo sistema de estacionamento de São Francisco (EUA), o SFpark, ajusta as taxas de acordo com a demanda em tempo real, e Milão, na Itália, implementou em 2012 um mecanismo de pedágio urbano que reduziu os níveis de tráfego em 30%. Finalmente, Curitiba, no Paraná, e Bogotá, capital da Colômbia, construíram cada uma o sucesso de seu respectivo sistema BRT, implementando princípios de desenvolvimento de trânsito orientado (TOD, na sigla em inglês) ao longo dos corredores.
Cada uma dessas cidades colhe agora os benefícios de suas ações, incluindo uma melhor qualidade de vida, maior segurança viária, redução dos tempos de deslocamento e um aumento no número de pessoas caminhando e andando de bicicleta. Os membros do C40 e lideranças de outras cidades podem desempenhar um papel fundamental nesse processo expandindo essas soluções para mais centros urbanos em todo o mundo.
Liderando pelo exemplo: os próximos passos para as cidades do C40
O fato de que as ações de desenvolvimento sustentável dos membros do C40 dobraram para mais de oito mil no decorrer dos últimos dois anos – includindo 1.534 medidas voltadas especificamente para melhorar o transporte urbano – é um sinal encorajador. Mas a batalha não termina aqui. Mais cidades precisam agir para que as soluções de transporte sustentável sejam realmente ampliadas em todo o mundo.
Para alcançar esse objetivo, as lideranças municipais – sejam de cidades do C40 ou não – podem tomar algumas medidas imediatas para promover a resiliência e habitabilidade por meio do transporte sustentável.
1) Pensar holisticamente — As cidades precisam integrar soluções de transporte às suas políticas econômicas bem como aos planos de desenvolvimento. Bogotá e Curitiba são grandes exemplos de cidades que colocaram o transporte no coração dos processos de planejamento urbano, tornando-se mais inclusivas e habitáveis.
2) Agir estrategicamente — Cidades engajadas em iniciativas de sustentabilidade devem coletar e manter bancos de dados a respeito dos impactos dessas ações. Uma maneira de fazer isso é se comprometer com um mecanismo de contabilidade de emissões de gases de efeito estufa internacional, como o Greenhouse Gas Protocol ou o Global Protocol for Community-Scale Greenhouse Gas Emissions (GPC). Além disso, é preciso também melhorar o acesso público aos dados e informações da cidade e promover o compartilhamento de conhecimento e boas práticas – dentro das cidades e também entre elas.
3) Mostrar liderança— Os prefeitos têm uma grande oportunidade para agir e mostrar liderança na Climate Summit 2014 em Nova York, um encontro organizado pelo secretário geral das Nações Unidas, Ban Ki-Moon. Os representantes municipais podem aproveitar a ocasião para avançar com compromissos concretos de criação de cidades mais habitáveis e resilientes – incluindo planos de soluções de transporte sustentável.
As lideranças municipais estão desempenhando um papel cada vez mais importante na definição do futuro de suas cidades e países e do nosso planeta. Esses representantes podem estar no centro de uma mudança de paradigma no modo como planejamos e construímos nossas cidades. Será que eles vão continuar com os negócios como de costume? Ou vão se mover em uma nova direção?
Tradução: Priscila Kichler Pacheco, do TheCityFix Brasil.