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Lotação: uma solução local para a mobilidade em Porto Alegre

Texto originalmente publicado em inglês por David Leipziger no TheCityFix.

O ônibus-lotação em Porto Alegre. (Foto: Artur Backes)

Um veículo elegante, com ar-condicionado, busca o passageiro na porta de casa. Os assentos reclinam para seu conforto. Ele puxa a cortina para evitar o brilho do sol, enquanto assiste a seu show favorito no seu computador usando a internet Wi-Fi gratuita do transporte. Quando está perto do escritório, avisa o motorista pra deixá-lo na frente do prédio.

Algo parecido com esse trajeto fantasticamente perfeito existe, mas num lugar onde muita gente pelo mundo poderia nem imaginar. As Lotações de Porto Alegre, no Brasil, são mini-ônibus coletivos que custam mais do que os ônibus convencionais, mas muito menos do que o valor de um táxi. Elas operam em rotas pré-determinadas, mas os passageiros podem subir e descer das lotações em qualquer parte do trajeto. Estes veículos não irão resolver cada e todo problema de mobilidade urbana sustentável, mas eles ensinam uma lição fundamental: o caminho para a mobilidade urbana sustentável é diferente para cada cidade, e soluções de sucesso vão ao encontro tanto de restrições econômicas quanto de necessidades pessoais dos residentes. Esses veículos públicos personalizados funcionam bem no Brasil porque eles atendem um nicho particular do mercado. Tal segmentação reduz tanto a tensão no trânsito quanto levanta fundos para a cidade.

COMO A LOTAÇÃO SURGIU

Os mini-ônibus inovadores de Porto Alegre são uma variação dos chamados táxis compartilhados e outras opções de transporte informal que permeiam o mundo em desenvolvimento. No Brasil, a explosão populacional do pós-guerra criou uma maior demanda por opções de transporte de massa. Os táxis foram equipados com uma linha extra para maior capacidade, o que se chama de táxi-lotação. Uma versão formalizada deste tipo de veículo foi sancionada pela Câmara Municipal de Porto Alegre em 1976. A palavra “táxi” foi retirada do nome depois que os veículos foram atualizados para vans, permitindo uma capacidade de mais de 20 assentos. Hoje, os cerca de 400 ônibus-lotação estão integrados no sistema de transporte público de Porto Alegre e transportam cerca de 60 mil passageiros por ano.

Os ônibus de alta qualidade em Porto Alegre reforçam a ideia de que as soluções de mobilidade urbana precisam ser criadas em resposta às necessidades e sensibilidades locais. Enquanto há lições a serem aprendidas a partir de outros países e de outras cidades, muitas vezes as soluções locais são as mais transformadoras. As frotas rickshaw nas cidades da Índia e a explosão de soluções de mobilidade compartilhada na América do Norte e cidades da Europa, por exemplo, refletem a revolução de prioridades, demandas e tecnologias locais.

No entanto, nem todas as soluções inovadoras de transporte funcionam em todos os lugares. O compartilhamento de bicicletas não tem feito sucesso nas cidades na Austrália (indiscutivelmente porque as leis locais exigem que todos os ciclistas usem capacete), e tem havido limitações à aplicabilidade dos sistemas BRT (Bus Rapid Transit) em alguns países em desenvolvimento. Isso não quer dizer que o bike-sharing e o BRT são essencialmente ruins; apenas significa que nuances locais afetam drasticamente o impacto de soluções que são bem sucedidas em outros lugares.

Pessoas caminham em torno da Estação Mercado, área central do transporte em Porto Alegre. Lá, lotações, ônibus, trem e táxis oferecem aos residentes diversas opções de transporte.(Foto: Eduardo Zarate)

PENSE LOCAL, AJA LOCAL

O setor privado é muitas vezes o primeiro a responder às condições locais de mercado. Condutores de rickshaws indianos e operadores de serviços de mobilidade compartilhada como o Uber são primariamente privados. Vendo o crescimento empreendedor da indústria de lotações, os servidores públicos de Porto Alegre formalizaram e integraram os táxis compartilhados na rede de transporte da cidade. Como resultado, o mercado de transportes mantém a sua segmentação, oferecendo uma gama de serviços aos usuários, mas sempre operando dentro das rotas pré-determinadas.

O future do transporte urbano depende de soluções inovadoras que funcionem em contextos locais. O modelo da lotação pode não funcionar em todo lugar, mas as demandas locais podem inspirar algo igualmente efetivo. As cidades devem ficar ligadas a oportunidades pioneiras para que inovações de transporte sejam ampliadas e implantadas em benefícios de todos os residentes urbanos.

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Tradução: Luísa Zottis, TheCityFixBrasil. 

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