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Rene Silva: a voz alta do Complexo do Alemão

Foto: Folha de S.Paulo

As palavras saem com calma e firmeza da boca de Rene Silva, o jovem que virou ícone ao narrar via Twitter, da janela de sua casa, a ocupação da polícia no Complexo do Alemão em 2010. Rene comprovava ali uma certeza que já tinha: as palavras têm poder. Com apenas 11 anos, ele já havia fundado um pequeno jornal comunitário, o “Voz da Comunidade”, que mais tarde iria se tornar o completo portal Voz das Comunidades, com notícias e conteúdos voltados à população do Complexo do Alemão. Hoje Rene circula entre políticos, formadores de opinião, líderes socioambientais e famosos, sem esquecer da sua voz: a comunidade do Alemão.

Em visita à EMBARQ Brasil, o jovem editor conta que, atualmente, possui uma equipe de 15 voluntários para atualizar o portal. “São jovens que trabalham pelo menos 4 horas por dia para registrar as histórias do Alemão. Ainda temos muito o que falar e receber de informação das pessoas, pois não atingimos 100% da comunidade. Mas temos contato direto com representantes de associações de moradores,  ONGs, amigos, pessoas que moram em locais bons e ruins. Estas pessoas acabam sendo nosso contato de referência para produzirmos conteúdos”, explica Rene, que recentemente teve sua história contada no livro “A voz do Alemão”, pela jornalista Sabrina Abreu.

Rene Silva com o prefeito do Rio, Eduardo Paes, que anunciou a doação de um terreno para o jornal “A Voz da Comunidade”. (Foto: Folha de S.Paulo)

Entre as principais reivindicações da comunidade estão problemas de saneamento básico e infraestrutura. “As ruas esburacadas, os esgotos a céu aberto, as calçadas em péssimo estado. Todos estes são problemas seríssimos que muitas vezes acabam virando parte do ambiente. Os moradores acham normal, pois estão acostumados a não ter resolução por parte do governo. Então nós surgimos para mostrar que isso não é normal e deve ser mudado , temos que cobrar nosso direito”, explica.

Além dos problemas básicos de saneamento, Rene conta que a mobilidade nas favelas ainda não é pensada em beneficiar a todos. Um exemplo emblemático foi a instalação do Teleférico do Complexo do Alemão, que atrai muitos turistas, mas não teve uma aderência significativa por parte daqueles que mais precisam, os moradores.  “O teleférico transporta cerca de 8 a 10 mil pessoas por dia. A expectativa do projeto inicial era atingir 70% da comunidade, mas não atinge nem 10%, pois o teleférico beneficia as pessoas que moram no alto dos morros. Para as pessoas que moram na entrada da favela, lá embaixo, ou em zonas menos íngremes não compensa”, comenta Rene.

De acordo com o jovem editor, o governo não oferece alternativas rápidas, confortáveis e baratas para deslocamento o que acaba deixando a população sem opções. “Existem meios alternativos que também estão legalizados agora, como o caso das kombis que circulam na comunidade. Então parece uma solução: melhorar os meios de transporte que já estão presentes, como também é o caso da regularização dos moto-táxis, que ainda é polêmica, mas são utilizados em diversas áreas do Rio, não apenas nas favelas”, diz.

Em visita a Porto Alegre. (Foto: EMBARQ Brasil)

“As ruas precisam ter mais espaço”

A questão dos espaços de convívio também é uma preocupação para Rene, que observa dia-a-dia a influência que podem ter na relação das pessoas com seu bairro. “A situação está complicada. As ruas precisam ter mais espaço. Hoje podemos compara-las a becos de tão estreitas. Às vezes não é possível passar dois carros ao mesmo tempo e as pessoas precisam se espremer”, conta.

Mas tudo indica que a situação deve melhor. Atualmente o governo está implementando uma biblioteca parque no Complexo do Alemão, com espaço dedicado para leitura, atividades esportivas e acesso a computadores. Tudo por mais integração da comunidade com o ambiente urbano.

“É uma ação importante criada pela Secretaria de Cultura do Estado. É um projeto diferente, pois o processo de criação não é feito somente para a favela , é sim com a favela, com as pessoas. Os moradores participam das reuniões, escolhem o melhor local para realizar as atividades e debatem como pode ser feito. Acho muito importante este processo pois não é um projeto generalista, que servirá a vários lugares, é pensado localmente de acordo com as necessidades de cada comunidade”, vibra Rene com orgulho nos olhos de ver os moradores com cada vez mais autonomia e voz.

Encontre o Rene Silva no Twitter

Acesse o Voz das Comunidades

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