
Os participantes na linha de chegada do Desafio Multimodal, no parque Ibirapuera. (Foto: Luísa Zottis/EMBARQ Brasil)
Recriar costumes de deslocamento nas grandes cidades é essencial para uma mobilidade urbana eficiente. E neste sábado, durante a Virada da Mobilidade, pessoas dispostas a mudar a realidade colocaram em prática este ideal. Partindo de várias localidades da cidade de São Paulo com destino ao parque do Ibirapuera, foi dada a largada para o Desafio Multimodal, cujo objetivo era mostrar a usuários de carro, trem, metrô ou bike a conectar todas as modalidades.
A cada chegada, uma comemoração. Divididos em duplas, os participantes se engajaram em superar diversas dificuldades pelo caminho para cruzar a “linha” da mobilidade. O prêmio? A sensação de dever cumprido e de ter, literalmente nas mãos e pés, o poder de transformar uma cidade que há muito tempo precisa se renovar no que tange à questão de mobilidade urbana.
Os grandes vencedores do Desafio foram os educadores físicos Fernando Novares, 35, e Renata Menck Bonfim, 25, que foram a pé, de ônibus e de metrô ao destino. Usuários de carro particular, eles contam que a principal dificuldade foi a super lotação dos ônibus e a falta de ciclovias. “Umas das linhas nem chegou a parar, isso que é sábado, então imagina nos dias de semana. Outra questão que nos prejudicou foi a falta de informação nas estações. Precisamos nos informar com outros usuários para saber qual linha utilizar”, contaram eles, que, durante o trajeto de bike, compartilharam as mesmas vias que o carros.
“As faixas de ônibus facilitaram muito o percurso, mas a situação dentro do coletivo ainda é uma tristeza. Tem que ocorrer uma mudança no transporte público”, acredita Renata, a qual assegurou que utilizaria o transporte público se fosse de mais fácil acesso e tivesse conectividade com outros modais.

Os primeiros colocados no Desafio percorreram o último trecho de bike. (Foto: Luísa Zottis/EMBARQ Brasil)
Tuca Munhoz, 55, que é o Secretário Municipal Adjunto da Secretaria da Pessoa com Deficiência e também cadeirante, topou participar do desafio assim que ficou sabendo sobre. Seu percurso, andando de cadeira de rodas motorizada, de metrô e carona, teve aspectos negativos, embora ele acredite que o mais importante foi ter sido capaz de chegar ao destino final.
“Mesmo tendo vindo por uma região nobre, a região de Pinheiros, encontrei calçadas irregulares e até esburacadas e muitos automóveis. Uma grande dificuldade foi o trem, pois a distância e altura da plataforma dificultaram minha acessibilidade ao interior, embora os profissionais tenham me atendido bem”. O secretário acredita que o transporte mais humanizado é possível e defende a restrição de carros e a melhora de qualidade como fatores essenciais à transformação cultural paulistana no sentido de mobilidade urbana.
“Utilizo transporte público todos os dias e é uma aventura”. Quem conta é a estudante Fabiana Santos, 26, que também cumpriu o Desafio Multimodal. Ela diz que jamais usaria o carro em função do trânsito caótico e também pede uma maior frequência entre linhas e ônibus. “Perco quatro horas por dia em deslocamento”, frisa. A também estudante Jéssika Ferraz Sisciliano, 21, conta que o que falta pra ela pedalar pela cidade é ciclovia. “E respeito do motorista”.
O representante comercial Rodrigo Campanha Albino, 34, que é usuário frequente de transporte coletivo, encara com otimismo o fato de ter chegado ali por acaso. “Caí de paraquedas no Desafio”, brinca. Convidado por Márcio Nigro, idealizador da Virada da Mobilidade, ele utilizou quatro modais de transporte para chegar ao Ibirapuera: ônibus, metrô, trem e carona. “Achei que seria pior. O metrô tem todo suporte, então é tranquilo, embora eu tenha utilizado a escada rolante em função de o elevador estar estragado. O ônibus é o maior problema, pois é de difícil acesso, uma vez que motorista e cobrador não sabem operar a rampa”. Ele acredita que a Virada é capaz de provocar uma consciência maior entre as pessoas. “Quanto mais visibilidade tiver o assunto, mais pode melhorar a minha situação e a de todos os outros usuários do coletivo”, avalia.