Um entre os exercícios de meditação existentes é ouvir. Isso mesmo, parar e ouvir. Dos sons mais distantes e altos aos mais próximos e suaves, até conseguir escutar a própria respiração. Em cidades cada vez mais ruidosas, porém, ouvir é difícil; muitas vezes, torna-se menos um exercício de meditação do que de paciência. São carros, buzinas, construções, conversas, sirenes, entre tantos outros sons que permeiam as ruas. Nesse cenário, o silêncio passa a ser um objeto de desejo escasso e valioso.
No começo dos anos 2000, Barcelona passou por uma mudança estrutural para preservar o sono dos bairros. O asfalto das vias da capital catalã foi substituído para reduzir em 50% o ruído do atrito dos pneus dos carros com o pavimento. Na prática, isso significa conseguir ouvir até mesmo a caixa registradora no mercado do outro lado da rua. Em 1905, quando ganhou o prêmio Nobel de Medicina, o infectologista alemão Robert Koch arriscou prever que um dia a humanidade combateria o barulho como então combatia a peste bubônica. Investimentos como o de Barcelona parecem indicar que esse dia chegou.
Gordon Hempton, ecologista e autor de One Square Inch of Silence, especializou-se em captação de sons da natureza. Em 1984, ele tomou o estado de Washington como amostra e identificou 21 lugares nos quais era possível escapar das ondas sonoras por pelo menos quinze minutos. Recentemente, contabilizou apenas três. E no Brasil não é diferente. Um estudo de 2011 da Universidade de São Paulo (USP) constatou que 45% dos quarenta pontos analisados apresentavam 15 decibéis acima do ideal. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a zona de conforto se situa em 50 decibéis durante o dia e 30 à noite.
O silêncio se tornou um recurso natural raro. E, para proporcionar às pessoas locais mais tranquilos, cidades como Helsinque e Nova York criaram oásis públicos em que o silêncio é a ordem. No Central Park, foram implantadas em 2011 oito Quiet Zones (zonas silenciosas), e na capital finlandesa, na Praça Narinkka, foi aberta uma capela de madeira e concreto sem fins religiosos. Conhecida como Capela do Silêncio, foi construída com objetivo único: oferecer um espaço onde vigora o silêncio.
Fonte: Planeta Sustentável