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Tempo de deslocamento em cidades brasileiras é maior do que em outras metrópoles

Por Aerton Guimarães. Publicado pela Agência CNT de Notícias em 19/03/2013.

Quem mora em São Paulo (SP) leva, em média, 43 minutos para ir de casa para o trabalho diariamente. No Rio de Janeiro (RJ), o tempo gasto é semelhante e, no Recife (PE), o mesmo trecho toma quase 35 minutos do trabalhador. Esses tempos superam ao despendido em grandes metrópoles como Nova Iorque, Paris, Madri e Berlim, perdendo apenas para Xangai, na China (confira gráfico abaixo). É o que aponta um estudo feito pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).“A pesquisa demonstra uma crise de mobilidade urbana que atinge a maioria das cidades brasileiras. São deficiências que vão desde a questão da infraestrutura destinada ao transporte público coletivo, como também ao crescimento vertiginoso da frota de automóveis, sem uma resposta em termos de infraestrutura para este crescimento”, critica o diretor administrativo e institucional da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Marcos Bicalho.

O levantamento mostra, ainda, o período gasto de acordo com a faixa de renda da população. Na média das áreas metropolitanas analisadas, os considerados pobres demoram quase 20% mais do que os mais ricos para chegar ao trabalho. Do total pesquisado, 19% daqueles que possuem faixa salarial menor fazem viagens com duração acima de uma hora (somente trajeto de ida), enquanto esta proporção entre os mais ricos é de apenas 11%.

Em Salvador, Recife, Fortaleza e Belém, por exemplo, a diferença entre pobres e ricos é consideravelmente pequena, apesar das diferentes condições destes dois grupos em termos de capacidade de escolha do local de moradia e de dependência do transporte público. Por outro lado, nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Curitiba e Distrito Federal, o grupo mais pobre faz viagens casa-trabalho respectivamente 40%, 61% e 75% mais demoradas do que os mais ricos.

Os resultados apontam para importância de futuros estudos que investiguem em que medida esta desigualdade nos tempos de viagem é resultado de diferentes níveis de segregação espacial e de acessibilidade dos bairros nas áreas metropolitanas brasileiras.

Tempo gasto até o trabalho no Brasil e no mundo (em minutos)

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Fonte: Ipea


Motorização

A pesquisa, realizada a partir dos microdados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra também os índices de motorização nas cidades, o que afeta diretamente o trânsito, devido ao número elevado de veículos nas ruas.

Dentre as dez maiores regiões metropolitanas do país, Curitiba tem a maior taxa de motorização, ou seja, o maior número de automóveis para cada grupo de cem pessoas: são 41,6. Em seguida aparecem São Paulo (38,1), Distrito Federal (37,3), Porto Alegre (31,2) e Belo Horizonte (29,6).

O levantamento contempla o período de 1992 a 2009 e revela dados curiosos. Curitiba e Porto Alegre, que nos anos 1990 instalaram bons sistemas de transporte público, com corredores de ônibus, mantiveram praticamente inalterado o tempo médio de viagem de seus habitantes, evitando a piora observada em outras cidades. Entretanto, quando comparados os 10% mais pobres aos 10% mais ricos, contrariamente à capital gaúcha, Curitiba tem um dos maiores níveis de desigualdade nas durações de viagem, em grau semelhante ao de Brasília, onde os pobres demoram, em média, quase o dobro dos ricos.De acordo com o diretor administrativo da NTU, as distâncias percorridas pelos mais pobres são bem maiores do que pelos mais ricos tanto em Brasília como em Curitiba. “O próprio desenho da cidade, mais especificamente no DF, interfere nessa questão”, reforça.
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