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Dia Internacional da Mulher: por um transporte público mais seguro

Foto: Adam Wiseman

Hoje, no dia Internacional da Mulher, o TheCityFix Brasil faz uma reflexão sobre as dificuldades que as mulheres enfrentam nos sistemas de transporte público. O problema atinge tanto nações subdesenvolvidas como as desenvolvidas, em diferentes classes sociais, e é responsabilidade de todos. A barreira do desrespeito à mulher ainda é enorme e requer esforço conjunto de diversas esferas para que haja uma mudança profunda de comportamento social e valorização do ser-humano. Essa é a nossa luta nas cidades, sempre. Acompanhe a interessante crítica da colaboradora Yasmin Khan, analista da EMBARQ México e pesquisadora de questões ligadas a políticas públicas e gênero, originalmente publicada em inglês no TheCityFix:

Quando a falta de segurança para as mulheres no transporte é manchete

O caso de uma gangue agressiva que, em dezembro, estuprou, assaltou e causou lesões internas fatais com uma barra de ferro a uma estudante de 23 anos, dentro de um ônibus público em Nova Deli, tem causado tumultos em todo o país e provocou um protesto internacional contra a falta de segurança para as mulheres na Índia. Mas o horrível incidente também destaca uma questão global que as mulheres enfrentam diariamente: a falta de segurança adequada para as mulheres e meninas no transporte público. Existem milhares de histórias, quem vêm à tona ou não, de assédio, estupro e violência contra as mulheres no transporte público em todo o mundo. Mesmo na Índia, ainda abalada por protestos que pedem mais segurança para as mulheres, pelo menos, mais dois estupros de gangues contra jovens mulheres em ônibus públicos foram reportados nas últimas semanas.

Nações mais “desenvolvidas” também não estão imunes à violência contra as mulheres no transporte público. Em novembro de 2012, uma menina de 18 anos, que teria deficiência mental, foi estuprada em um ônibus público em Los Angeles, enquanto o motorista continuou sua rota. Foi o terceiro estupro no sistema de ônibus no ano passado, de acordo com a Los Angeles County Metropolitan Transportation Authority. E em 2011, uma mulher em Nottingham, na Inglaterra, foi obrigada a sair do ônibus às 3h da manhã, depois de não ter 20 pence para completar a tarifa de 5 libras. Ela foi estuprada na rua, de acordo com uma reportagem da BBC, enquanto esperava sua mãe para buscá-la.

De acordo com um relatório da Next City, uma mulher foi sequestrada por homens armados, no ano passado, em um trem de Chicago e levada por dois homens para um apartamento, onde ela foi estuprada. Em Ciudad Juarez, no México, uma cidade fronteiriça conhecida pela violência sistemática e brutal contra as mulheres – incluindo tortura, estupro e assassinato – trabalhadoras relatam que a parte mais perigosa do seu dia é esperar o ônibus para ir e voltar do trabalho, onde homens, em carros, sequestram mulheres ou esperam no terminal de ônibus principal da cidade, onde “pegam” as suas vítimas entre as centenas de mulheres que entram e saem dos ônibus.

Questões de gênero na mobilidade são amplamente ignoradas em todo o mundo

O transporte público é inerentemente mais seguro em termos de acidentes de trânsito do que o transporte privado, mas para as mulheres – que dependem do transporte público mais do que os homens e representam mais da metade dos usuários de transporte público em nível global – o transporte público é menos seguro em termos de assaltos violentos. Apesar da evidência de que o transporte público não está atendendo as necessidades de segurança das mulheres, a segurança das mulheres não é uma prioridade para a maioria dos prestadores de serviços.

De acordo com Anastasia Loukaitou-Sideris, da UCLA, cujo mais recente estudo fala sobre o que faz com que as passageiras se sintam inseguras (e, assim, decidam não andar de transporte público), as mulheres têm necessidades específicas como passageiras, especialmente em relação à segurança. Ela diz que sua pesquisa com as agências norte-americanas de trânsito, com mais de 50 veículos de transporte coletivo, revelou que, apesar de dois terços dos entrevistados acreditarem que as mulheres têm necessidades específicas, apenas um terço pensa que as agências de trânsito devam realmente fazer algo sobre isso. “A parte mais chocante desta pesquisa”, observou ela, “foi que apenas 3% das agências tinham programas em vigor para as mulheres”.

O primeiro passo para tornar o transporte público mais seguro para as mulheres está em assegurar o compromisso com os responsáveis pelo transporte para tornar seus sistemas mais seguros para as mulheres: das agências governamentais e urbanistas até motoristas de ônibus e policiais. Por exemplo, o ônibus de Nova Deli, onde o estupro ocorreu, estava funcionando ilegalmente – e tinha sido apreendido seis vezes nos últimos dois anos. Autoridades distritais multaram, repetidas vezes, o operador (o principal suspeito no caso do estupro da gangue) com 2.200 rúpias (cerca de R$ 80) e devolveu o veículo, todas as vezes. Alguns culparam o departamento de transporte de Deli de ser corrupto e o responsável pelo ataque brutal, e estão pedindo a demissão do Ministro dos Transportes.

No México, as mulheres da cidade de Juarez dizem que pediram aos planejadores da cidade para melhorar as paradas de ônibus e os serviços em áreas marginalizadas por anos, mas não tiveram sucesso. Enquanto isso, centenas de mulheres e meninas desapareceram das ruas da cidade, os seus corpos são encontrados mutilados e jogados no deserto, isso quando são encontrados. Corrupção, indiferença às necessidades das mulheres e a falta de preocupação com os usuários de transporte público – que muitas vezes vivem em áreas de subúrbio ou fazem parte de um grupo demográfico de baixa renda – estabelecem as bases para um sistema que funciona contra as mulheres.

Exigência por um transporte mais seguro para as mulheres em nossas vidas e no mundo

Nós, na EMBARQ México, estamos propondo a “Iniciativa para um Transporte Seguro para Mulheres” e gostaríamos de ouvir ideias de como outras regiões do mundo gostariam de estar envolvidas. Nossa lista de pedidos para os fornecedores de transporte é a seguinte:

Exigimos que as autoridades de transporte público reconheçam as diferenças de gênero e necessidades de seus passageiros.

– Exigimos que um transporte público eficaz e seguro seja oferecido a mulheres de todas as classes socioeconômicas.

– Exigimos que os provedores de transporte público, de agências governamentais a operadores de transporte, sejam responsáveis por fornecer transporte seguro para as mulheres.

– Exigimos que os provedores de transporte público, de agências governamentais a operadores de transporte, sejam responsabilizados por atos de violência contra as mulheres ao usar o transporte público.

Exigimos que os provedores de transporte público incluam mulheres no processo de planejamento de transportes, a fim de atender e satisfazer as suas necessidades.

Ao trabalhar para trazer um transporte público de alta qualidade para as mulheres de todas as classes socioeconômicas, a EMBARQ México deseja inspirar as mulheres a assumir a direção no desenvolvimento do transporte público em suas próprias comunidades, e encorajá-las a chegar a seus destinos, na vida e em suas carreiras.

E você, o que pensa sobre os serviços de transporte pensados para as necessidades das mulheres? Deixe seu comentário ou pergunta para a autora!

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