Por Adriano Branco*
Não resta a menor dúvida de que o transporte urbano de São Paulo e a principal conseqüência do seu mau desempenho, o trânsito, constituem um dos maiores problemas da Cidade. Abrangendo a totalidade da população, que se movimenta a pé, por bicicleta, automóvel, ônibus, metrô e trem, causa prejuízos econômicos e sócio-ambientais avaliados em torno de 50 bilhões de reais por ano. Dentre tais inconvenientes apurados, incluem-se os acidentes, a alta taxa de mortalidade, a perda de tempo e de produtividade, a poluição, o excesso de consumo de energia.
Apesar de tudo isso, não se viu nenhuma proposta consistente ao longo da campanha eleitoral do primeiro turno, em busca da solução do problema. Falou-se de corredores (sem esclarecer detalhes fundamentais), de construir mais linhas de metrô (que é encargo do Estado), de melhorar a qualidade e conforto dos ônibus, de bilhete único e até de tarifa proporcional ao percurso. Essa proposta, inclusive, foi responsabilizada pela perda de sustentação do candidato que a formulou, já que não a esclareceu convenientemente.
Em resumo, o tema mobilidade urbana não fez jus a nenhuma proposta à altura das necessidades do Município.
Como já tenho escrito em várias oportunidades (aliás, trato do assunto desde 1975), o que mais falta em São Paulo é o tal “subsistema de média capacidade”, que foi proposto e iniciado por Olavo Setubal em 1977, àquela época com a configuração de 280 km de corredores exclusivos, para operar 1.580 trólebus, dos quais 450 articulados. Mais tarde a idéia foi reavivada, resultando lei especifica para o subsistema (em 1997), que foi revogada em 2001. E voltamos à estaca zero…

Uma nova geração de trólebus surgiu com o Plano de Setubal. (Foto: Arquivo Marcopolo)
Passados trinta e cinco anos, desde o plano SISTRAN de Setubal, a cidade cresceu, o número de automóveis multiplicou-se e o metrô estendeu-se por cerca de 60 km. Ou seja, pouco se fez, pelo transporte público.
É claro que precisamos de mais metrô, em prazo mais curto. Mas ele não pode resolver todas as questões da mobilidade, seja por não ser necessário em áreas de menor demanda, seja pelo alto custo envolvido. A cidade precisa de quatro categorias de transporte: o de alta capacidade (metrô e ferrovia), o de média capacidade (corredores de tróleibus e, talvez, o monotrilho), o de linhas expressas (equivalentes aos corredores que hoje temos mas que estão muito aquém da capacidade média) e o de tráfego misto, abrigando ônibus e automóveis.
A proposta hoje, portanto, deve ser no sentido de um esforço excepcional na criação do subsistema de média capacidade. As demais ações, salvo a ampliação do metrô e modernização da ferrovia, são úteis, mas não resolvem significativamente o problema da mobilidade urbana.
E, para não deixar dúvidas, corredores de média capacidade são os que obedecem aos seguintes requisitos:
a) nenhum cruzamento com outros fluxos de deslocamento ou interferência de outros veículos no mesmo tráfego;
b) possibilidade de formação de comboios;
c) elevada freqüência de composições, o que depende de outros fatores abaixo mencionados;
d) possibilidade de cobrança externa aos veículos, permitindo a entrada e saída dos passageiros por todas as portas;
e) plataformas de embarque no nível do interior dos carros;
f) redundância em instalações, de forma a minimizar as possibilidades de interrupção do tráfego;
g) aceleração e velocidades elevadas, mas atendendo os níveis de conforto exigidos;
h) guiagem mecânica, magnética, ótica ou similar, permitindo uma operação segura com velocidade e freqüências mais elevadas.
Finalmente, deve-se registrar que os requisitos mencionados anteriormente podem ser alcançados progressivamente, desde que o projeto inicial já os contemple.
*Adriano Branco é ex-Secretário dos Transportes e da Habitação do Estado de São Paulo, eleito Engenheiro do Ano de 2008, Membro da Academia Nacional de Engenharia.