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Mobilidade sustentável busca diminuir os riscos ao meio ambiente e à vida

Copenhague, na Dinamarca, é exemplo de mobilidade urbana sustentável. (Foto: I-Sustain)

Por Globo Ecologia. Publicado em 01/09/2012.

Mobilidade urbana sustentável é um conceito muito discutido atualmente no meio acadêmico, mas que ainda não tem uma definição própria. Pelo nome, entende-se como um tipo de circulação que considera os três aspectos da sustentabilidade: social, ambiental e econômico. “Eu definiria mobilidade sustentável como o potencial de deslocamento que interfere de modo inteligente nesses três campos”, declara Thiago Guimarães, professor de Planejamento de Transportes da Universidade Técnica de Hamburgo, na Alemanha.

Caminhar para a mobilidade sustentável, segundo Guimarães, significa olhar para aspectos sociais e ambientais que são deixados de lado. No caso brasileiro, o motivo para isso é que muitas cidades foram planejadas com ênfase no espaço para o automóvel. “Essas cidades têm ruas que muitas vezes rasgam os bairros e impedem o convívio social mais saudável. As pessoas sofrem com o ruído causado pelos veículos automotores, sofrem pela poluição, sofrem acidentes. Enfim, você tem uma série de efeitos ambientais e sociais negativos”, explica Guimarães.

Mesmo nas áreas rurais, a questão da mobilidade têm efeitos ambientais. “Se você está cortando uma floresta para construir uma estrada, muitas vezes você está dividindo os indivíduos de uma comunidade animal naquela região e colocando as espécies em risco”, acrescenta o professor.

Em São Paulo, a prioridade tem sido espaço para os carros. (Foto: Fernando Stankuns)

De acordo com Guimarães, em todas as escalas do planejamento de transportes é preciso levar em conta fatores como a produção de ruído pelos veículos, a produção de poluição e o risco de acidentes pela velocidade dos veículos. “Em uma cidade alemã, por exemplo, o número máximo de mortes no trânsito por ano é 20. Numa cidade brasileira esse número é bem maior”, observa Guimarães. “Eu defendo a mobilidade sustentável pela própria defesa da vida, que até agora parece não ter muito valor no Brasil.”

Lei de Mobilidade Urbana

De um modo geral, há por trás do conceito de mobilidade urbana sustável a ideia de favorecer viagens por meios de transportes não motorizados – como bicicletas – e meios de transporte coletivos – como ônibus, metrô, trem e barca. “É necessário favorecer mais o uso de outros modos de transporte. No entanto, tem que ser bastante sensível para diferenciar mobilidade urbana sustentável de um discurso de raiva contra o automóvel”, ressalta Thiago Guimarães.

A questão passa tanto por investimentos nos modos de transporte não motorizados e coletivos, quanto pela adoção de restrições ao uso indiscriminado de automóveis. “Por meio de investimentos, é preciso oferecer calçadas com melhor qualidade, redes hidroviárias, oferecer um planejamento integrado dos modos de transporte coletivo. Quanto aos automóveis, é preciso haver regulação das velocidades máximas permitidas, restrição dos locais onde é permitido estacionar, entre outras regras”, complementa Guimarães.

Em compatibilidade com os aspectos citados, a Lei nº 12.587, sancionada em janeiro de 2012, tem como objetivos melhorar a acessibilidade e a mobilidade das pessoas e cargas nos municípios, bem como integrar os diferentes modos de transporte. A legislação institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) e prevê instrumentos para melhorar a mobilidade urbana nas grandes cidades, como a restrição da circulação em horários predeterminados, a exemplo do que já existe em São Paulo.

No entanto, Guimarães acredita que, no Brasil, há uma distância muito grande entre o aparato legal e a realidade, a política urbana. O acadêmico usa o exemplo do Estatuto da Cidade, promulgado em 2001 e premiado como uma das leis mais avançados na área do urbanismo. Porém, passados mais de 10 anos, não há sinais de ter sido implementado. “Usando como metáfora, a comida está na frente das prefeituras, o Estatuto da Cidade dá garfo e faca, mas elas não estão fazendo nada. Com a questão da mobilidade urbana, o risco é muito grande de nada ser feito de novo”, explica.

Bicicletas públicas do Rio de Janeiro. (Foto: Veja Rio)

Segundo o professor, faltam iniciativas públicas no Brasil para uma mobilidade sustentável. Um exemplo é o aluguel das bicicletas promovido pelo Banco Itaú, projeto implantado nas ruas do Rio de Janeiro e de São Paulo, e que em outros países é feito pelo poder público. “Veja só: o maior banco privado do país investindo em um projeto de mobilidade urbana, que tinha que ser feito pelas prefeituras”, critica Guimarães.

As vitrines dos problemas

Pela falta de planejamento e investimentos, as cidades grandes são vitrines dos problemas de transporte que podem afetar também cidades médias e pequenas. São Paulo, por exemplo, tem uma rede de metrô até pouco tempo considerada com nível de serviço muito bom. “Com o aumento da renda e o crescimento da demanda, você tem uma espécie de sufoco da rede metroviária. É uma rede pequena para muita gente. Sempre foi pequena, mas com o aumento da demanda, as pessoas quase sentam no colo umas das outras”, explica Thiago Guimarães.

Por conta de problemas como esse é que muitas pessoas não conseguem deixar o carro na garagem. “Tem gente que diz ‘até quero ser mais sustentável, mas quais são as opções? Ir para o trabalho exprimido no metrô? Ir para o ponto de ônibus e não saber que horas ele vai chegar?’”, exemplifica Guimarães. “Não são opções muito atrativas. E esse tipo de problema já acontece em outras cidades brasileiras. É mais um desafio que só pode ser vencido no médio prazo”, completa.

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