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Rio+20 no retrovisor: qual é o caminho adiante para o transporte sustentável?

Diretor da EMBARQ acompanhou jornalistas dos EUA em tour pelo BRT Transoeste, no Rio. (Foto: Mariana Gil / EMBARQ Brasil)

Este post foi originalmente publicado por Holger Dalkmann, diretor da EMBARQ, no WRI Insights.

Ao analisarmos a Rio+20, que encerrou na semana passada, podemos dizer com confiança que o transporte se encaminhou para o topo da agenda do desenvolvimento sustentável. É um grande avanço em relação à última conferência de desenvolvimento global, ocorrida há 10 anos em Joanesburgo, quando o transporte, visivelmente, ficou fora da agenda e dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Após a Rio+20, o transporte está agora prestes a se tornar uma parte significativa dos Próximos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, que estão começando a tomar forma como um dos principais resultados da conferência.

Com o transporte intrinsecamente ligado a tantas megatendências globais hoje – mudanças climáticas, fatalidades no trânsito, crescimento da cidade e do congestionamento, pobreza, e poluição do ar – foi muito bom ver o transporte sustentável, finalmente, incluído nas discussões de desenvolvimento. Aqui estão alguns dos principais resultados para o transporte na Rio +20:

Progressos para o Transporte Sustentável

1) O documento final da Rio+20, “O Futuro que Queremos”, contém dois parágrafos sobre o transporte sustentável. Um reconhecimento específico da segurança viária, como parte integrante de um transporte sustentável fornece uma relação futura para a Década de Ação para a Segurança no Trânsito da ONU, que visa estabilizar e reduzir o número de mortes mundiais nas estradas até 2020. O transporte também está incluído no capítulo de cidades sustentáveis, reconhecendo a ligação entre o desenvolvimento urbano e o transporte e o papel da caminhada e do ciclismo como formas de mobilidade saudáveis e amigas do meio ambiente. No entanto, o texto não inclui compromissos específicos para implementar iniciativas de transporte sustentável, de modo que essas boas palavras ainda precisam ser traduzidas em ação.

2) Nunca antes houve tantos eventos relacionados a transporte em uma conferência internacional de tanta relevância. Na verdade, foram realizados 30 eventos de transporte na Rio+20. Alguns destaques:

  • O prefeito de Nova Iorque, Michael Bloomberg, reuniu-se com políticos do Rio no Centro de Operações, elogiando a evolução da cidade: “Estive no Rio há 20 anos atrás e posso ver as diferenças, principalmente nas ações das pessoas. Acredito que os cariocas seguem no caminho certo em relação à sustentabilidade”, declarou.

3) organizações da ONU, ONGs, associações de transporte, e bancos de desenvolvimento articularam compromissos sólidos, com apoio das comunidades ligadas ao transporte, saúde e mudanças climáticas:

  • No total, 15 compromissos foram submetidos para o Transporte Sustentável no site oficial da UNCSD. Mais alguns foram adicionados à lista feita pela Partnership on Sustainable Low Carbon Transport (SLoCaT), uma parceria das Nações Unidas tipo-2 constituída por 63 grandes e influentes instituições da área de transportes sustentáveis (a EMBARQ é um dos membros). Os compromissos vão desde a promoção de formas ambientalmente sensíveis de transporte até o aumento do ciclismo para duplicar a oferta de transporte público em todo o mundo até 2025.
  • A EMBARQ submeteu seu próprio compromisso voluntário de “Intensificar Soluções de Transporte Sustentável em todo o mundo”, com o objetivo de garantir que 200 cidades, principalmente, de economias emergentes adotem a mobilidade sustentável no desenvolvimento urbano em 2016. Apoiamos também um segundo compromisso voluntário com a Campanha de Zenani Mandela, “Proteger crianças de acidentes de trânsito e melhorar seu ambiente urbano”, alinhada com 11 outras organizações. O compromisso foi refletido no evento da EMBARQ na Rio+20, “Transporte Sustentável Salva Vidas”, que promoveu a conversa sobre a relação entre transporte, saúde e segurança viária. Este foi o único evento oficial de segurança viária da Rio+20.
  • O Grupo de Liderança Climática C40, incluindo prefeitos de 58 megacidades ao redor do mundo, anunciou que suas ações poderiam reduzir as emissões de gases de efeito estufa em mais de um bilhão de toneladas até 2030. Promulgar as políticas para alcançar novas reduções de emissões exigirá foco no transporte sustentável, já que o transporte é o responsável por mais de 40% das emissões de gases de efeito estufa na maioria das cidades.

4) Finalmente, nunca antes houve tanto dinheiro alocado para o transporte sustentável. Os maiores bancos multilaterais de desenvolvimento do mundo se comprometeram em investir U$ 175 bilhões ao longo de 10 anos para apoiar o transporte sustentável em países em desenvolvimento. Visto que este investimento é inegavelmente um “game-changer”, vamos ter que nos certificar de que o dinheiro será gasto nos tipos certos de projetos, como agradáveis espaços públicos – que fornecem infraestrutura mais segura para pedestres e ciclistas – ou na construção de sistemas de transporte modernos e de baixo custo.

Diretores das principais organizações de transporte sustentável firmaram compromisso voluntário durante a Rio+20. (Foto: Mariana Gil / EMBARQ Brasil)

Próximos Passos

Enquanto as negociações da Rio+20 estão sendo criticadas como medíocres, na melhor das hipóteses, e improdutivas, na pior, o foco no transporte sustentável surgiu, definitivamente, como um ponto de destaque na conferência.

No próximo semestre, um painel de especialistas de alto nível, sob a liderança de Ban Ki-moon, será formado. É uma oportunidade de acompanhar os compromissos voluntários, bem como incluir o transporte sustentável nas Metas de Desenvolvimento Sustentáveis das Nações Unidas.

Além disso, nos meses seguintes há necessidade de trabalhar princípios, orientações e indicadores para assegurar que o compromisso monetário dos bancos multilaterais de desenvolvimento seja mensurável, transparente e confiável. Um grupo independente de trabalho constituído por empresas, representantes governamentais, ONGs e pesquisadores poderia ser um passo adiante para garantir que o financiamento vai, de fato, gerar uma mudança de paradigma.

Muitos compromissos foram firmados para promover percursos a pé, o ciclismo e o acesso ao transporte público. Agora é a hora de pegar estes compromissos e passar para a difícil tarefa de torná-los realidade.

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