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Crônica – A arte de andar de ônibus

Foto: Roberto Ortega

Por Jonas Sakamoto*, publicado em 04/06/2012 no Obvious Lounge.

O transporte público no Brasil é algo essencial para a maioria da população, que vive verdadeiras aventuras ao usufruir deste meio. Em um ônibus pode acontecer e acontece de quase tudo, senão tudo…!

Eis quem vos escreve também usa este meio para se locomover. Um ônibus é um carro grande com um motorista que gosta dos extremos, tem aquele que é mais lento e parece que vive na vibe do paz e amor, e aquele outro que curte a adrenalina e não tá nem aí, “manda” o passageiro pular dentro do ônibus, para este mesmo passageiro desenvolver até algumas técnicas para se equilibrar.

O motorista paz e amor não liga se o amigão do carro pequeno ao lado tá há meia hora buzinando e xingando ele. Manda os passageiros subirem, não liga se não vai dar mais ninguém, pois acha que o ônibus é que nem coração de mãe, cabe sempre mais um. Vale lembrar que muitos deles acham que dois corpos ocupam SIM, o mesmo lugar no espaço. Acho que cabe mesmo, é só lembrar daqueles indivíduos que acham que podem ficar atrás apertando você contra a cadeira, quase fazendo com que você sentar no colo de outro passageiro, que te olha com a cara feia, como se a culpa pelo empurrão fosse sua.

Não existe maior interação social do que andar de coletivo, o próprio nome já diz tudo, todos estão no aperto juntos. Tem desde o educado até o totalmente mal educado, desde o grosso até o que cede a cadeira para o idoso, da criança berrando querendo peito da mãe, e as figuras como os DJ´s e o pessoal da igreja no ônibus. Sem esquecer os que pedem ajuda, com o discurso praticamente pronto e igual ao do outro que vai subir no ponto seguinte. Quem se lembra do: “Boa dia senhores e senhoras passageiros, desculpem estar aqui atrapalhando a viagem das vossas pessoas…?”

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Por falar em figuras que aparecem, é quase diário quando vejo três figuras certas: o DJ, o cantor e o pastor. Me diz aí, qual é o pior?

O pastor é aquele que vê o que é diferente, classifica-os como perdido e adjetivos afins e inicia a pregação, os cantores (e cantoras) são os que devem se sentir frustrados, e não satisfeitos, resolvem desbravar e abrir os pulmões dentro dos coletivos que estamos falando aqui. E por último e não menos importante (ou não), eles, os DJ’s de ônibus. Figuras esdrúxulas, que possuem fortes sintomas de egocentrismo e acham que o seu gosto é universal, amplamente aceito e sem características ruins. Estes indivíduos são por muito odiados, pois simplesmente colocam seu equipamento nas alturas, obrigando todos a partilharem de sua música e esquecem que fones de ouvidos estão aí para serem utilizados.

A universalidade dos protagonistas dos coletivos é grande, isso mesmo, quem aí já tirou aquela soneca gostosa e esqueceu-se da vida por alguns minutos (que na verdade são segundos!)? Não é novidade, os engarrafamentos, apesar de muitos odiarem e se estressarem fácil, para os sonecas de coletivos tem uma ótima função, cochilar e/ou dormir. Existem os pescadores natos, os sonâmbulos e, pra mim, o mais, vamos dizer, especial: aquele que dorme do momento que sentou até a hora de descer. Detalhe: inexplicavelmente, ele sabe a hora de acordar e pedir a parada. Dom de poucos, não!?

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Há quem diga que andar de ônibus é uma aventura ou é testar a paciência diariamente. A real é que andar de ônibus é uma arte, é a arte de sentir todas as emoções e situações possíveis, é paquerar sem saber que pode durar até o ponto seguinte, é ser eclético, é ser cantor, é ser filósofo, é saber dividir, saber esperar, esperar mesmo sozinho no ponto mas esperar, e por mais tempo que você espere você sabe que esta mais perto do ônibus chegar, ou então chegar no ponto e 10 segundos depois seu ônibus chegar, ou então ele já ter passado, é sinalizar pro motorista e ele passar direto e de quebra, sorrir da sua cara. Ou então correr e na hora não ser o seu ônibus, enfim, é aventurar.

O coletivo é uma aventura ímpar, pois proporciona um tour pela cidade, a oportunidade de conversar com aquela pessoa e possivelmente nunca mais ver, é treinar a virtude da paciência, é se preocupar, é o momento da leitura, é se desligar do Mundo, é dormir, é acordar, é malhar (sentar e levantar é um ótimo exercício), enfim, andar de ônibus é uma arte!

* Jonas Sakamoto, descendente da Terra Nipônica, estudante de Jornalismo e Ciências Sociais, guitarrista, cinéfilo, apaixonado por música e fotografia, e tem um namoro de seis anos.

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