Por Kaiodê Biague*
Nascida em 1975 em San Sebastian, norte da Espanha, onde vive e trabalha, a artista Maider López graduada em Belas Artes pela Universidad del País Vasco – UPV (1998), obteve título de mestre pela Chelsea College of Art and Design, Londres (1999) e de doutora em arquitetura também pela UPV (2000). López busca criar intervenções que provoquem reflexões sobre a prática urbana, por meio de diálogos entre arte, arquitetura e espaço público. Sua proposta é de interromper espaços aparentemente normais por meio de inesperadas intervenções e performances.
Quase sempre suas obras ou ações envolvem a participação ativa das pessoas locais, como, por exemplo, da vez que em promoveu uma chamada pública para o Ataskoa (congestionamento em basco), com anúncio em jornais, rádios, panfletos e cartazes. O apelo festivo público resultou em um engarrafamento nas colinas de Intza, Navarra, Espanha. A situação deslocada do cotidiano das grandes cidades e inserida naquela pacata localidade provoca “uma nova interpretação e reflexão sobre o uso do carro”, argumenta López.
Assim, “em 18 de setembro de 2005, 160 carros (cerca de 425 pessoas) se reuniram em Intza. O congestionamento começou às 11h e terminou às 15h. Os carros foram distribuídos em função da cor ao longo da estrada. Além dos 160 carros voluntários, também participaram uma equipe para orientar o tráfego, organizar o almoço, fotografar e filmar de cinco locais diferentes”, descreveu.
De fato, o ataskoa gera inúmeras reflexões sobre a irracionalidade do tráfego em nossas cidades, em como o ideal de mobilidade motorizada individual tem nos roubado tempo e espaço, ironicamente, anunciados em campanhas e mais campanhas publicitárias pelas montadoras.
Maider com seu engarrafamento “provinciano” também sinaliza para a urgência em se pensar o planejamento urbano também para as pequenas e médias cidades. Nesta perspectiva, a Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU), sancionada recentemete, chega com grande esperança e expectativa. Os desafios são vários, como bem salientou Alexandre Gomide, diretor do DIEST/IPEA: “é necessário engajamento político dos atores sociais e a capacitação do Poder Público, sobretudo do municipal, que terá que adequar e implementar as diretrizes e instrumentos da lei à realidade de suas cidades, para fazer a lei pegar”.
Embora não sejam obrigados, todos os municípios com mais de 20 mil habitantes deverão implantar seus Planos de Mobilidade até 2015, de acordo com a PNMU.
*Kaiodê Biague – além de estudante de arquitetura pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix, em Belo Horizonte, costuma fazer uns freela como designer gráfico, ama a cultura urbana e sonha com o dia em que as pessoas utilizarão o transporte público por opção e não pelo contrário.