por Paulo Finatto
Um olho na frente, visualizando o caminho, e outro atrás, ainda mais atento aos veículos que passam a poucos centímetros de distância. Para quem adotou a bicicleta como meio de transporte em Curitiba, faltam olhos para prever todos os perigos que cercam os que trafegam em duas rodas. A falta de uma rede cicloviária, que atenda não somente aos ciclistas ocasionais de fim de semana, dificulta trajetos rotineiros, como o deslocamento até o trabalho ou a universidade.
O técnico em tomografia Oscar Cidri é um desses curitibanos empenhados pela causa. Há 12 anos, em meio a um trânsito cada vez mais caótico e lento, optou por deixar o carro em casa. Desde então, só vai para trás do volante em dia de muita chuva.
Porém, a longa experiência como ciclista não o isenta de sustos no trânsito, devido a uma condição comum a tantos outros – nos 12 quilômetros que percorre diariamente, não há sequer um metro de ciclovia. “Sou contra usar a pista exclusiva para ônibus, porque sei que uma freada brusca que o motorista dê pode ferir as pessoas dentro do ônibus. O problema é que várias vezes já levei ‘fino’ de carros que andam em alta velocidade”, relata.
Para ciclistas e urbanistas, as ciclovias curitibanas, implantadas há três décadas, pecam justamente em um fator fundamental: são destinadas ao lazer, e não para a locomoção entre grandes distâncias. Sinal claro de que, ao longo do tempo, a bicicleta acabou não sendo levada a sério como meio alternativo de transporte. No entanto, a pressão da sociedade civil, reforçada pelo esgotamento dos outros meios, parece estar provocando mudanças.
Elaborado por técnicos e engenheiros do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc) desde 2008, o Plano Diretor Cicloviário deve estabelecer as diretrizes para que, enfim, a rede de ciclovias atenda à demanda dos que adotaram a bicicleta como principal – ou único – meio de transporte. As mudanças, que contemplam a criação de cerca de 300 novos quilômetros de ciclovias, devem ser adotadas a médio e longo prazo.
Mesmo com as revisões, a coordenadora de Mobilidade Urbana do Ippuc, Maria Miranda, defende que as melhorias previstas no Plano Cicloviário “são um caminho sem volta”. Para ela, o próprio envolvimento da comunidade no processo e o estabelecimento das diretrizes em um plano diretor, que servirá de base para futuras gestões, garantem a execução dos projetos. “Há um envolvimento tão grande da comunidade e do corpo técnico que o prefeito, seja ele quem for, não vai regredir nessa discussão”, reforça.
Fonte: Gazeta do Povo
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